"Não havia coisa, naquela cidade, que me parecesse de facto ser, ao mirá-la, o que na realidade era, pois supunha que tudo houvesse mudado de figura, por obra de algum sortilégio infernal. Se topava com uma pedra, nela via homens petrificados; se ouvia pássaros a cantar, logo imaginava pessoas com asas; outro tanto acontecia às folhas das árvores que bordejavam a muralha, ou ainda às águas das fontes, onde vislumbrava correntezas a manar de corpos humanos. Já as estátuas e as imagens me pareciam estar prontas a andar, as paredes a falar, os bois e a restante alimária a profetizar; o próprio céu e o disco do sol se preparariam para emitir um oráculo a qualquer momento."
Apuleio, O burro de ouro, II, 3-5, trad. Delfim Leão, Lisboa: Cotovia, 2018, p. 48.
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