Sunday, July 12, 2020

DOMINGO





"É domingo: o burguês deixa os asfaltos, 
Dando o braço à burguesa:
Procura o campo e, ao vê-lo, exclama aos saltos: 
«Ó filha, que lindeza!»

E pasma do verdor febril, romântico, 
Da múrmura floresta;
E a sua longa orelha absorve o cântico
Da passarada em festa. 

Eu que não saio, escondo a gelosia, 
Com negros cortinados, 
E recebo a visita, em pleno dia, 
Dos espectros amados. 

E aquele Amor que eu vi morrer outrora, 
No meu quarto aparece!
Senta-se ao pé de mim, beija-me e chora, 
E treme e desfalece!"


Gonçalves Crespo, Nocturnos, in Obras Completas, 6ª ed., Lisboa: Empresa Literária Fluminense, 1922, pp. 52-53 [ort. atual..].

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