"Surge a luz da alvorada. Pudessem
Dessas campas geladas que vejo
Os bons monges dos tempos antigos
Surgir vivos à voz de um desejo!
E que ao longo das vastas arcadas
Se escutassem seus passos serenos,
Como se ouve o tranquilo regato
Sussurrar nestes campos amenos!
Quem então não curvara ante o velho?
Quem a bênção da mão descarnada,
Como a bênção do céu, não pedira
Da virtude ao poder confiada?
Quem ousara soltar no deserto
Estridente clangor da trombeta,
E fazer cintilar pela noite
A cruel decisiva baioneta?
Quem ousara o sorriso do insulto
Junto ao negro edifício soltar,
E com gozo, na mente, por terra
Suas grimpas jazendo pintar?
Mas há muito que os bons se finaram;
Mas há muito que às dores fugiram.
E depois, nesses velhos sepulcros
Quantos maus inquietos dormiram!
Quem o sabe? Quais foram? Seus nomes
Pereceram: ninguém o dirá.
O que o sabe os julgou: e do abismo
Nem um ai o cantor tirará."
Alexandre Herculano, Poesias, Lisboa: Círculo de Leitores, 1987, p. 189.
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