Saturday, July 18, 2020

TRÁGICO




"O general observava a paisagem sombria mergulhado no nevoeiro, os flancos despidos das montanhas e a abundância de pedras de todas as dimensões que cobriam o solo. Sentiu-se invadido por uma profunda tristeza. Havia uma semana que não viam senão essas vertentes rochosas. Parecia-lhe que, na sua nudez selvagem, ocultavam um segredo terrível. 
- É um país trágico - disse. - Os seus trajes têm também algo de trágico. Olhe para aquelas capotes negras e para as saias das mulheres. 
- Que diria se ouvisse os seus cantos? Ainda são mais lúgubres. Tem que ver com o destino do país. Não há um povo que tenha conhecido, ao longo dos séculos, um destino mais triste. É a isso que se devem esta rudeza e esta severidade. 
- Não têm canções alegres?
- Não. Muito poucas."


Ismaïl Kadaré, O General do Exército Morto, trad. Artur Lopes Cardoso, Porto: Sextante/Porto Editora, 2020, p. 49. 

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