Tuesday, November 28, 2006

ANGELOGRAFIA (2)




"E não haver gestos novos nem palavras novas!"

(F. Espanca, Diário)


Monday, November 27, 2006

VIOLÊNCIA DA LUZ




"O Ouro desnuda-se, a memória é branca
Como o corpo da amada - a amada passa
No crisol o fuso da pobreza
O amante tece da pobreza o vestido novo


O ouro enriquece-se de trevas, a noite enriquece o centro
Das pupilas. O acto
Excede o acto - só há o quieto brilho
Do olhar infuso. A violenta
Escuridão de se abeirar da luz"



Daniel Faria, "Dos Líquidos", in "Poesia", Quasi Ed.: V. N. Famalicão, pág. 221.

Sunday, November 26, 2006

INTENSAMENTE LIVRE. homenagem a Mário Cesariny



[poema]
Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas no próprio seio dela
intensamente amantes loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem


Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina realmente os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca


Mário Cesariny de Vasconcelos, Pena Capital

FUGA PARA A MONTANHA (Campos Elíseos)



Sub passeris nomine designatur instabilitas mentis in quodlibet homine. Est enim passer auis inconstans et instabilis, et ideo designat mobilitatem mentis. Porro per montem intelligimus elationis altitudinem.


"Pela palavra "pássaro" representa-se a instabilidade da mente num homem. O pássaro é uma ave inconstante e instável e, por isso, representa a inconstância da mente. Por "montanha" entendemos a altura do orgulho".



(Livro das Aves, ed. Maria Isabel Rebelo Gonçalves, Lisboa: ed. Colibri, págs. 94-95)


Wednesday, November 22, 2006

ANGELOGRAFIA (1)




"Anjo! haveria uma praça que não conhecemos, e ali,
sobre o tapete indizível, mostrariam os amantes, que aqui
nunca chegam a poder realizá-las, as suas ousadas
altas figuras do impulso do coração,
suas torres de desejo, suas escadas que, há muito tempo,
ali onde o solo falhava, apenas se apoiavam
uma à outra, trementes, - e ali poderiam,
em frente dos espectadores em volta, inúmeros mortos silenciosos:"


Rainer Maria Rilke, "A Quinta Elegia de Duíno", trad. Paulo Quintela

Tuesday, November 21, 2006

DO(i)S FELINOS




"Nenhum vocábulo detém o gato
e o sublinha, lacónico,
no choro, no cio.

Completo, destemido, curvatura, elo.
Despojado, num túnel,
da pele, do pêlo.

Só lhe ganha o homem
ganhando erecção, êxtase,
circulação do sangue
orientada"

Luiza Neto Jorge, Os Sítios Sitiados




Monday, November 20, 2006

ILUSION





















"E a Vida foi, e é assim, e não melhora.
Esforço inútil. Tudo é ilusão.
Quantos não cismam nisso mesmo a esta hora
Com uma taça, ou um punhal na mão!"

António Nobre, "Só"


Sunday, November 19, 2006

Saturday, November 18, 2006

INTERSECÇÕES - SIGNA NATURALIA/SIGNA DATA


LUSIOS



"Les joies dionysiennes avaient un trés large registre, depuis les plaisirs simples du rustique, dansant une gigue sur des outres graissées, jusqu' à l' ômophagos charis, la bacchanale extatique. Aux deux niveaux, et à tous les niveaux intermédiaires, il était Lusios, le «Libérateurs» - le dieu qui, par les moyens très simples. ou par d'autres moyens qui l'étaient moins, vous permettait pour un peu de temps de cesser d'être vous-même, et qui ainsi vous libérait."


E. R. Dodds, Les Grecs et L'Irrationnel, Paris: Flammarion, 2000, pps. 83-84