Thursday, January 31, 2013

DOMÉSTICO, DOMESTICAR


"Estas novas e pitorescas adições ao panorama doméstico significaram ócio e abundância, e com eles chegou a primeira investida de pinturas de vasos e os primeiros versos dos poetas que povoaram os rios de ninfas, os bosques de carvalhos de dríades, as cavernas de Pãs e centauros e as florestas de sátiros e selenos. Na cultura que daí adveio cada planta e cada flor tinha a sua história, a sua ligação à natureza interior mitopeica do homem - de que ele só pode aperceber-se quando tem uma oportunidade de sonhar. Sim, Martine, foi isso! Uma oportunidade de sonhar! Assim se transformou Dafne em loureiro, assim quebrou Perséfone o jejum debicando bagos de romã - e a própria poesia foi domesticada."
 
Lawrence Durrel, Carrocel Siciliano, trad. Fernanda Pinto Rodrigues, Lisboa: Livros do Brasil, 1992, p. 93.

Wednesday, January 30, 2013

AS IMAGENS DA TERRA


"Se a descida se faz assim, em certos dias, na dor, pode também fazer-se na alegria. Esta palavra não é de mais. Ainda imagino Sísifo voltando para o seu rochedo, e a dor estava no começo. Quando as imagens da terra se apegam de mais à lembrança, quando o chamamento da felicidade se torna demasiado premente, acontece que a tristeza se ergue no coração do homem: é a vitória do rochedo, é o próprio rochedo. O imenso infortúnio é pesado de mais para poder ser carregado. São as nossas noites de Gethsemani. Mas as verdades esmagadoras morrem quando são reconhecidas."
 
Albert Camus, O mito de Sísifo, trad. Urbano Tavares Rodrigues, Lisboa: Livros do Brasil, s.d., p. 115.

Tuesday, January 29, 2013

RIBOMBAR


"Um ribombar: é a
própria verdade
que chegou
às pessoas
no meio do
turbilhão de metáforas."
  Paul Celan, Sete Rosas Mais Tarde - Antologia Poética, trad. João Barrento e Y. K. Centeno, 2ª ed., Lisboa: Ed. Cotovia, 1996, p. 133.

Sunday, January 27, 2013

O METECO


"Je me suis forgé d'innombrables idoles, ai dressé partout trop d'autels, et me suis agenouillé devant une foule de dieux. Maintenant, las d'adorer, j'ai gaspillé la dose de délire qui m'échut en partage. On n'a de ressources que pour les absolus de son engeance, une âme comme un pays ne s'épanouissant qu'à l'intérieur de ses frontières: je paye pour les avoir franchies, pour m'être fait de l'Indéfinie une patrie, et de divinités étrangères un culte, pour m'être prosterné devant des siècles qui exclurent mes ancêtres. D'où je viens, je ne saurais plus le dire: dans les temples, je suis sans croyance; dans les cités, sans ardeur; près de mes semblables, sans curiosité; sur la terre, sans certitudes. - Donnez-moi un désir précis, et je renverserai le monde."
Émile M. Cioran, Précis de décomposition, Paris: Gallimard, 1990, p. 145.

Friday, January 25, 2013

OS TEMPOS


"A única coisa importante - a minha qualidade de mortal, de quem espera a morte - esqueço-me dela. Perco o tempo com um trabalho idiota na Legação e com estudos sem sentido.
Vivemos uma catástrofe cósmica: este é o único sentido da guerra. Tenho de a encarar como encaravam os meus antepassados a seca, os terramotos, as pragas. Não há nada a fazer. Tem que se esperar - e se preparar para a morte, rezando, fazendo pazes com o próximo. Qualquer outra atitude é ridícula.
Só durante essas crises me dou conta da tragédia da minha vida: porque eu apostei em cultura, em obras de arte, em criação - e tudo isso é inútil no plano metafísico e é absurdo no momento histórico que vivemos."
  Mircea Eliade, Diário Português, trad. Corneliu Popa, Lisboa: Guerra e Paz, 2007, p. 71.

Thursday, January 24, 2013

ESTRANHO


"A lenda conta que havia nas velhas florestas turíngias seres estranhos, raças de gigantes, mais e menos que homens, que eram considerados pelos romanos como animais horríveis e pelos germanos como encarnações divinas, e que, segundo os que encontrassem, corriam o risco de ser exterminados ou adorados.
O marquês experimentou algo de semelhante ao que deviam sentir esses seres quando, esperando ser tratado como monstros, eram bruscamente tratados como deuses.
Todos aqueles olhos cheios de temíveis relâmpagos se cravavam no marquês com uma espécie de amor selvagem."
Victor Hugo, Noventa e Três, trad. Pedro Reis, Lisboa: Amigos do Livro, Editores, s.d., p. 86.

Wednesday, January 23, 2013

L'ANIMAL INDIRECT


"C'est à une véritable déroute qu'on parvient lorqu'on pense continûment, par une obsession radicale, que l'homme existe, qu'il est ce qu'il est - et qu'il ne peut pas être autre. Mais ce qu'il est, mille définitions le dénoncent et aucune ne s'impose: plus elles sont arbitraires, plus elles paraissent valables. L'absurdité la plus ailée et la banalité la plus pesante lui conviennent pareillement. L'infinité de ses attributs compose l'être de plus imprécis que nous puissions concevoir. Alors que les bêtes vont directement à leur but, il se prend dans des détours; c'est l'animal indirect par excellence."

Émile M. Cioran, Précis de décomposition, Paris: Gallimard, 1990, p. 40.

Tuesday, January 22, 2013

LE VENT QUI RESPIRE EST MON HALEINE


"As massas negras das árvores estão tão imóveis
como as montanhas. As estrelas enchem um céu imenso.
Uma aragem quente como um sopro humano acaricia-me
os olhos e o rosto.

Ó Noite que deste à luz os deuses!, como passas
docemente pelos meus lábios, cálida pelos meus cabelos,
penetrando-me tão à vontade que me fazes sentir prenha
da tua primavera!

As flores que florirão é em mim que todas vão florir.
O vento que respira sou eu a respirar. O perfume
que se exala é o meu desejo a fluir. Meus olhos são o firmamento
das estrelas.

Tua voz é o ruído do mar? Será o silêncio das planícies?
Não a compreendo, sinto apenas que me arremessa
a cabeça aos pés. É essa tua voz que me faz correr lágrimas
pelas mãos."
Pierre Louÿs, O Sexo de Ler de Bilitis, trad. Maria Gabriela Llansol, Lisboa: Relógio d'Água, 2010, p. 235.

Monday, January 21, 2013

O ANTI-PROFETA


"Que si tous nos actes - depuis la respiration jusqu'à la fondation des empires ou des systèmes métaphysiques - dérivent d'une illusion sur notre importance, à plus fort raison l'instinct prophétique. Qui, avec la vision exacte de sa nullité, tenterait d'être efficace et de d'ériger en saveur?"
  Émile M. Cioran, Précis de décomposition, Paris: Gallimard, 1990, p. 14.

Sunday, January 20, 2013

AGITAÇÃO MARÍTIMA


"Um canhão que quebra as suas amarras transforma-se subitamente em não se sabe que fera sobrenatural. É uma máquina que se transforma num monstro. Essa massa corre sobre as suas rodas, tem movimentos de bola de bilhar, desliza com os balanços, mergulha quando a nave afocinha, vai, vem, detém-se, parece meditar, retoma a sua corrida, atravessa o navio de um extremo ao outro como uma flecha, volta-se, esquiva-se, evade-se, encabrita-se, choca, racha, mata, extermina. É um ariete que bate caprichosamente contra uma muralha de madeira. É a entrada em liberdade da matéria; dir-se-ia que essa escrava eterna se vinga; é como se a maldade que existe naquilo a que chamamos corpos inertes surgisse e estourasse num repente; como se perdesse a paciência e tirasse uma estranha e obscura desforra; nada é mais inexorável do que a cólera do inanimado."
  Victor Hugo, Noventa e Três, trad. Pedro Reis, Lisboa: Amigos do Livro, Editores, s.d., pp. 31-32.

Saturday, January 19, 2013

O DESEJO


"Uma chuva miudinha embebeu tudo,
com muita doçura e em silêncio. Ainda chove um pouco.
Vou sair. Abrigar-me sob as árvores. Descalça,
para não sujar os sapatos.

Na primavera, a chuva é deliciosa. Os ramos,
cobertos de flores molhadas, exalam um perfume
que me entontece. Vê-se brilhar ao sol a pele delicada
das árvores.

Dá pena ver tantas flores no chão. Tende piedade
das flores caídas. Não devem ser varridas e misturadas
com a lama, mas deixadas para as abelhas.

Os escaravelhos e as lesmas cruzam o caminho
por entre poças de água; não quero pisá-los,
nem assustar o lagarto dourado que se espreguiça
e pisca os olhos."
 
Pierre Louÿs, O Sexo de Ler de Bilitis, trad. Maria Gabriela Llansol, Lisboa: Relógio d'Água, 2010, p. 49.

Friday, January 18, 2013

TEMPO


"Sem pressa fio o andar
rápido das mãos sobrando
e liberto lentos os dentes.

O tempo é curto.
De nervos à superfície,
a temperatura conveniente
abre-me o fundo dos olhos."
  Emerenciano, A mão tingida sobre o espelho, Porto: Campo das Letras, 1998, p. 36.

Wednesday, January 16, 2013

PENSAR


"Desejamos a verdade e só encontramos incerteza em nós.
Procuramos a felicidade e só encontramos miséria e morte.
Somos incapazes de não desejar a verdade e a felicidade e somos incapazes de certeza e de felicidade. Este desejo é-nos deixado tanto para nos punir como para nos fazer sentir onde caímos."
 
Blaise Pascal, Pensamentos, 3ª ed. , trad. Américo de Carvalho. Mem Martins: Publ. Europa-América, 1998, p. 181.

Tuesday, January 15, 2013

REMEMORAR


"À medida que aumentava a faculdade criadora do olhar, parecia estabelecer-se entre o estado de vigília e o sonho uma certa simpatia: tudo quanto eu voluntariamente rememorava e representava no escuro tinha a tendência de se transferir para os sonhos; passei por isso a ter medo de exercer aquela faculdade; pois, da mesma forma que Midas, ao transformar tudo em ouro, via as suas esperanças iludidas e os seus desejos humanos defraudados, assim todas as representações que eu materializava visualmente no escuro tomavam logo a forma de espectros diante dos meus olhos; e, por um processo aparentemente inevitável, depois de delineados em pálidas cores espectrais (como caracteres traçados com tinta simpática), logo a energia alquímica dos meus sonhos os revestia de um esplendor insuportável que me abalava o coração."

Thomas de Quincey, Confissões de um opiómano inglês, trad. Manuel João Gomes, Lisboa: Contexto, 1989, p. 117.

Monday, January 14, 2013

DOS PROBLEMAS DA VEROSIMILHANÇA


"Miss Caroline começou o dia a ler-nos uma história a respeito de gatos. Os gatos tinham longas conversas uns com os outros, usavam vestidinhos e viviam numa casinha quente, debaixo de um fogão de cozinha. Na altura em que a Srª Gata ia ao drugstore para encomendar ratinhos com malte e chocolate, toda a classe se retorcia como um balde cheio de bichos das uvas. Miss Caroline parecia não compreender que aquela 1ª classe, com camisas de cotim e saias feitas de sacos de farinha, composta de rapazes e de raparigas que, na maior parte, tinham alimentado porcos e andado na colheita do algodão desde o tempo em que haviam começado a dar os seus primeiros passos, era imune à literatura imaginativa. Miss Caroline acabou a história e disse:
- Oh, meus pequenos, não foi bonito?"
  Harper Lee, Não Matem a Cotovia, trad. Raul Correia, Mem Martins: Publicações Europa-América, s.d., p. 24.

Sunday, January 13, 2013

A CRENÇA


"Queria muito acreditar no homem mas, insensatez por insensatez, Deus parece-me mais coerente. São sem dúvida palavras oriundas do estado em que se encontra, da sua escravidão, palavras da arte, não daquilo que usualmente é. Dias em que o nada é o único amigo que temos. Dias em que, contrariamente ao valor ético da alegria, nos resta somente o valor estético da tristeza. A existência é um erro inevitável."
Paulo José Miranda, Natureza Morta, Lisboa: Editorial Cotovia, 1998, pp. 111-112.

Saturday, January 12, 2013

MÚSICA/NÃO-EXISTÊNCIA


"A música realiza apenas o que não existe. É esta a sua essência. Pensei no quanto a música acabara por destruir a minha própria vida. Nunca se escolhe ser compositor; é-se ou não se é escolhido. E somos escolhidos muito antes de o sabermos O mal começa a infiltrar-se-nos através de pequenas coisas, e muitas vezes insuspeitadas. Toda a arte, se vivida com a própria existência, só pode levar a perder um homem, ainda que salve outros. Mas só salva aqueles que nela se não perdem. A música é incompatível com um corpo. Ao contrário da política, que é a exacta expressão do que interessa à subsistência, à coexistência. Ninguém de bom senso se entrega a esta coisa de mortos, a este pensamento melódico pelo qual tenho vivido. Deus deve pôr a arte no coração daqueles que mais têm de expiar."
  Paulo José Miranda, Natureza Morta, Lisboa: Editorial Cotovia, 1998, p. 56.

Friday, January 11, 2013

AVISOS


"No estado nervoso em que me encontro, não suporto melhor um moralista desumano do que o ópio por ferver. Seja como for, quem me obriga a carregar um fardo de auto-negação e mortificação, numa viagem de aperfeiçoamento moral, vai ter de me provar claramente que o esforço vale a pena. No actual momento da minha vida (trinta e seis anos de idade) é de supor que não disponho de muitas energias para esbanjar; apenas as estritamente necessárias para os trabalhos intelectuais que tenho em mãos; portanto, que ninguém espere assustar-me com palavras ásperas e convencer-me a embarcar em desesperadas aventuras de moralidade."
 
Thomas de Quincey, Confissões de um opiómano inglês, trad. Manuel João Gomes, Lisboa: Contexto, 1989, p. 93.

Thursday, January 10, 2013

ABANDONO / NARCISUS


"Os deuses abandonaram-me, os deuses roubaram o pouco que me restava de felicidade. Melhor era terem levado também esta ânsia de permanecer. Nada me consola. Absolutamente nada.
Passei a amedrontar-me à vista do meu reflexo. Odeio-me. Vou rasgar todas as imagens onde me reconheço. Vou rasgar os espelhos que surgem dentro dos sonhos. Rasgar o dia pela linha da madrugada e regressar à noite, à inacreditável noite dos apagados.
Deixar que a água do tempo devore tudo, deixar que o tempo se transforme em água.
E o corpo não conseguirá nunca viver entre a penumbra e a alba, esse espaço aberto a todas as paixões.

Regar as plantas, esperar a visita dos amigos demorar-me a olhar o mar, e não ver mar nenhum, e nenhum amigo chegar, e esperar que as plantas morram de sede.
Enfim, a noite sossegará o meu desespero."
Al Berto, Diários, Lisboa: Assírio & Alvim, 2012, p. 108.

Wednesday, January 9, 2013

INDIGNAÇÃO


"Posso indignar-me um dia
sem levantar a voz
ser mudo rio tocado
sem pressa de um mar.

Por muito tempo cantarei
sobre a linha de todos
os horizontes que se perdem
no rumo dos passos
mecânicos, porque repetidos."


Emerenciano, Chão prisão do Mundo, Porto: Campo das Letras, 1998, p. 73.

Tuesday, January 8, 2013

GRATIDÃO A GALILEU


"Uma vez, pois, que esta luz secundária não é intrínseca e própria à Lua, e também não é emprestada por nenhuma estrela nem pelo Sol, e visto que na vastidão do mundo não resta nenhum outro corpo a não ser a Terra, pergunto então o que devemos pensar? Que devemos propor? Será que um corpo lunar, como qualquer outro corpo escuro e opaco, é banhado de luz pela Terra? Mas o que é que isso tem de tão espantoso? Mais do que isso: a Terra, numa troca igual e agradecida, retribui à Lua uma luz igual àquela que recebe da Lua durante quase todo o tempo na mais profunda escuridão da noite."
  Galileu Galilei, Sidereus Nuncius -  O Mensageiro das Estrelas, 2ª ed., trad. Henrique Leitão, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010, p. 171.

Monday, January 7, 2013

O MUNDO É ETERNO, AFINAL


"Toda a geração advém de algo que se corrompe, e tudo o que se corrompe foi previamente gerado. Do mesmo modo, qualquer corrupção procede de algo que foi gerado, e tudo o que foi gerado procede daquilo que se corrompeu. Assim, anteriormente a qualquer geração está uma geração, e anteriormente a qualquer corrupção, uma corrupção. Logo, não se deve considerar uma primeira geração nem uma primeira corrupção. Logo, a geração e a corrupção são eternas. Logo, o mundo é eterno, pois o que se gera e o que se corrompe são as partes do mundo que não podem precedê-lo na duração."
Boécio da Dácia, A Eternidade do Mundo, trad. Mário A. Santiago de Carvalho, Lisboa: Colibri, 1996, p. 43.

Sunday, January 6, 2013

O MUNDO PODE SER ETERNO (EM DIA DE REIS)


"Isto ainda se pode defender com o seguinte argumento. Nada é eterno no futuro sem um passado, porque a força que pode fazer durar alguma coisa eternamente no futuro, também a pode fazer durar eternamente no passado, na medida em que uma tal força é imutável e inalterável. Ora, de acordo com a posição da fé cristã e a opinião de determinados filósofos, o mundo é eterno quanto ao futuro. Logo, pela mesma força, ele podia ter sido eterno quanto ao passado."
  Boécio da Dácia, A Eternidade do Mundo, trad. Mário A. Santiago de Carvalho, Lisboa: Colibri, 1996, p. 41.

Saturday, January 5, 2013

PARECE QUE O MUNDO NÃO É ETERNO


"O primeiro princípio é a causa da substância do mundo, porque, se o não fosse, então, seriam vários os primeiros princípios. Ora, aquilo que recebe o ser de um outro, procede dele também na duração. Logo, o mundo procede do primeiro princípio da duração. Mas um ente eterno não procede de nada na duração. Logo, o mundo não é eterno."
  Boécio da Dácia, A Eternidade do Mundo, trad. Mário A. Santiago de Carvalho, Lisboa: Colibri, 1996, p. 35.

QUERENCIA, DOLENCIA, APETENCIA


"Una querencia tengo por tu acento,
una apetencia por tu compañia
y una dolencia de melancolía
por la ausencia del aire de tu viento.

Paciencia necesita mi tormento,
urgencia de tu amor e galanía,
clemencia de tu voz la tuya mía
y asistencia el estado en que lo cuento.

Ay querencia, dolencia y apetencia!:
me falta el aire tuyo, mi sustento,
y no sé respirar, y me desmayo.

Que venga Dios, que venga de su ausencia
a serenar la sien del pensamiento
que me mata con un eterno rayo."

Miguel Hernández, El Rayo Que No Cesa, Madrid: Espasa, 2012, p. 45.

Wednesday, January 2, 2013

MOLE


"[ 5 de Janeiro de 1984]
(...)
(um chá na Dona Emília, com o Nozolino.
pergunta o Nozolino: Acha que alguma coisa se suicida neste país? Há «suicidários»?
- Não, é tudo mole. A palavra justa para o que se passa é MOLE. Já não somos o povo «nobre» que Nuno Gonçalves pintou. Espera-nos uma morte macaca! É tudo. Será?"
  Al Berto, Diários, Lisboa: Assírio & Alvim, 2012, p. 61.

Tuesday, January 1, 2013

LA PRIÈRE D'UN PAÏEN


"Ah! ne ralentis pas tes flammes;
Réchauffe mon coeur engourdi,
Volupté, torture des âmes!
Diva! supplicem exaudi!

Déesse dans l'air répandue,
Flamme dans notre souterrain!
Exauce une âme morfondue,
Qui te consacre un chant d'airain.

Volupté, sois toujours ma reine!
Prends le masque d'une sirène
Faite de chair et de velours,

Ou verse-moi tes sommeils lourds
Dans le vin informe et mystique,
Volupté, fantôme élastique!"
Charles Baudelaire, Les fleurs du mal, Paris: Bookking International, 2000, pp. 232-233.

PRINCIPIA A AURORA ÀS 6H21


"Tinha de voltar à condição de homem - nem os deuses nem o Oráculo me sucediam nos acontecimentos. Era um nada, apenas com a vontade indócil de voltar costas à Esparta dos séculos, a uma verdade mentira que permanece latente no homem, como o amor e o ódio, a justiça e a vingança. Pensei na razão tremenda do feliz-infeliz, do incompreendido, de um mundo que o receio de não ser torna em angústias os erros e os sonos acordados da antiquíssima herança."

Ruben A., Um Adeus aos Deuses, Lisboa: Assírio & Alvim, 2010, p.  81.