Monday, February 28, 2022

OFUSCADA

 



"Sinto às vezes ferir-me a retina ofuscada
Um sonho: - A Natureza abre as perpétuas fontes:
E, ao clarão criador que invade os horizontes,
Vejo a Terra sorrir à primeira alvorada.

Nos mares e nos céus, nas rechãs e nos montes, 
A Vida canta, chora, arde, delira, brada...
E arfa a Terra, num parto horrendo, carregada
De monstros, de mamutes e de rinocerontes.
 
Rude, uma geração de gigantes acorda
Para a conquista. A uivar, do refúgio das furnas 
A migração primeira, em torvelins, transborda.

E ouço, longe, rodar, nas primitivas eras, 
Como uma tempestade entre as sombras nocturnas,
O estrupido brutal d'essa invasão de feras."


Olavo Bilac, "As Viagens", in Poesias, 22.ª ed., Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1946, p. 235.

LUGAR DE REPOUSO

 

 

“A partir desse momento, a medula dos meus ossos ressequiu-se e tornei-me como uma sombra. A minha alma abandonou o meu corpo extenuado e ficou a errar entre estas paredes, como anunciava o vaticínio do santo homem. Esperei, mas em vão, ser libertado das penosas correntes que me ligavam ainda à terra; pois, fica a sabê-lo, quando a alma se separa do corpo, ela aspira ao lugar do repouso; esse vivo desejo faz os anos parecerem-me tão longos como séculos, enquanto ela definha num elemento estranho.”

 

“O Amor Mudo”, in Fantasmagoriana – Aparições, Espectos, Assombrações, trad. Nuno Fonseca, ed. Adriana Molder, Lisboa: Documenta, 2018, p. 54. 

A DECADÊNCIA

 



“Além disso, aliás, muitos demónios dos que foram expulsos do céu figuram como patronos, seja no mar, seja nos rios seja nas fontes seja nas florestas, e há homens que, na sua ignorância de Deus, de modo semelhante, lhes prestam culto, como se fossem deuses e lhes oferecem sacrifícios. No mar, realmente, dão-lhes o nome de Neptuno, nos rios o de Lâmias, nas fontes o de Ninfas, nos bosques o de Diana, que tudo são demónios malignos e espíritos nefandos. São eles quem faz mal e atormenta os homens sem fé, que não sabem munir-se do sinal da cruz.”


Martinho de Braga, Instrução Pastoral sobre Superstições Populares (De Correctione Rusticorum), ed. e trad. Aires A. Nascimento, Lisboa: Edições Cosmos, 1997, pp. 111; 113.

Sunday, February 27, 2022

DUALISMO

 




“Não és bom, nem és mau: és triste e humano…
Vives ansiando, em maldições e preces,
Como se, a arder, no coração tivesses
O tumulto e o clamor de um largo oceano.

Pobre, no bem como no mal, padeces;
E, rolando num vórtice vesano,
Oscilas entre a crença e o desengano,
Entre esperanças e desinteresses.

Capaz de horrores e de ações sublimes,
Não ficas nas virtudes satisfeito,
Não te arrependes, infeliz, dos crimes:

E, no perpétuo ideal que te devora,
Residem juntamente no teu peito
Um demónio que ruge e um deus que chora.”


Olavo Bilac, "Tarde", in Poesias, 22.ª ed., Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1946, p. 310.  

Saturday, February 26, 2022

DAIMON

 


“Foi, portanto, depois desta queda dos anjos, que aprouve a Deus plasmar o homem do limo da terra; pô-lo no Paraíso e disse-lhe que se observasse o preceito do Senhor, passaria, sem morrer, para aquele lugar celestial, de onde os anjos rebeldes tinham caído. Se, porém, transgredisse os mandamentos de Deus, teria morte certa. Vendo, pois, que o diabo (ou os seus ministros, os demónios) que o homem tinha sido criado, com um fim, que era o de ocupar o seu lugar, no reino de Deus de onde caíra, levado pela inveja, persuadiu o homem a transgredir as ordens de Deus. Por esta ofensa foi o homem expulso do Paraíso para o exílio deste mundo, onde haveria de padecer muitos trabalhos e dores.”


Martinho de Braga, Instrução Pastoral sobre Superstições Populares (De Correctione Rusticorum), ed. e trad. Aires A. Nascimento, Lisboa: Edições Cosmos, 1997, p. 109. 

POTÊNCIAS


“Este esquema compreende numerosas variantes que, no entanto, não se afastam do dualismo integral de base. Por um lado, o mal, sob todas as suas formas, depende de uma potência autónoma, por outro, o combate entre o bem e o mal é, constitutivamente, um combate viciado, na medida em que, no fim dos tempos, aquele levará a melhor sobre este.”

Georges Minois, O Diabo – origem e evolução histórica, trad. Augusto Joaquim, Lisboa: Terramar, 2003, p. 22. 

Thursday, February 24, 2022

JORNADA NEGRA

 



"Oh! a jornada negra! A alma se despedaça...
Tremem as mãos... O olhar, molhado e ansioso, espia, 
E vê fugir, fugir a ribanceira fria, 
Por onde a procissão dos dias mortos passa.

No céu gelado expira o derradeiro dia, 
Na última região que o teu olhar devassa!
E só, trevoso e largo, o mar estardalhaça
No indizível horror de uma noite vazia...

Pobre! porque a sofrer, a Leste e a Oeste, ao Norte
E ao Sul, desperdiçaste a força de tua alma?
Tinhas tão perto o Bem, tendo tão perto a Morte!

Paz à tua ambição! paz à tua loucura!
A conquista melhor é a conquista da Calma:
- Conquistaste o país do Sono e da Ventura!"


Olavo Bilac, "As Viagens", in Poesias, 22.ª ed., Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1946, p. 246. 

CORAÇÃO RECTO

 



"Mas a fatalidade persegue as acções de alguns homens: dêem-lhes eles o curso que entenderem, elas passam sempre através de um certo meio que de tal modo as retorce e refracta da sua verdadeira direcção - que, mesmo com todos os direitos ao louvor que um coração recto pode conferir, os seus actores são apesar disso obrigados a viver e a morrer sem ele."


Laurence Sterne, A Vida e Opiniões de Tristram Shandy - Parte Primeira, 2.ª ed., trad. Manuel Portela, Lisboa: Antígona, 1998, p. 81. 

Tuesday, February 22, 2022

APAGADA

 



"Ter nascido homem outro, ter em outros dias, 
- Não hoje, nesta agitação sem glória, 
Em traficâncias e mesquinharias, 
Numa apagada vida merencorea...

Ter nascido numa era de utopias, 
Nos áureos ciclos épicos da História, 
Ardendo em fantasiosas fantasias, 
Em rajadas de amor e de vitória:

Campeão e trovador da Idade Média, 
Herói no galanteio e na cruzada, 
Viver entre um idílio e uma tragédia;

E morrer em sorrisos e lampejos, 
Por um gesto, por um olhar, um sonho, um nada, 
Traspassado de golpes e de beijos!"



Olavo Bilac, "Alma Inquieta", in Poesias, 22.ª ed., Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1946, p. 370. 

Monday, February 21, 2022

VITA NUOVA

 



"Se ao mesmo gozo antigo me convidas,
Com esses mesmos olhos abrasados, 
Mata a recordação das horas idas, 
Das horas que vivemos apartados!

Não me fales das lágrimas perdidas, 
Não me fales dos beijos dissipados!
Há numa vida humana cem mil vidas, 
Cabem num coração cem mil pecados!

Amo-te! A febre, que supunhas morta, 
Revive. Esquece o meu passado, louca!
Que importa a vida que passou? que importa, 

Se inda te amo, depois de amores tantos, 
E inda tenho, nos olhos e na boca, 
Novas fontes de beijos e de prantos ?!"


Olavo Bilac, "Alma Inquieta", in Poesias, 22.ª ed., Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1946, p. 178. 

Sunday, February 20, 2022

ÂNGULO

 



"No ângulo no espaço que liga o interior da obscuridade à aparência da luz
nos côncavos que soletram o olhar para que ele o transmita à
     visão nos limiares nas paredes que confraternizam com os
     temporais na chuva que desenha o Messias na erva na terra
     nas pedras
Nos vales e nos cumes na gruta onde respiram as entranhas das
    montanhas como se fosse o pulmão dos rochedos
Vi como o ser humano se torna chama e renova o espaço da 
    História"


Adonis, O Arco-Íris do Instante, trad. Nuno Júdice, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2016, p. 119. 

Saturday, February 19, 2022

LIBERDADE

 


"No teórico, o sujeito não é livre devido à autonomia das coisas. Do mesmo modo, no prático, o sujeito também não é livre, porque submete as coisas aos seus impulsos e paixões. Confronta-se, então, com a resistência das coisas. Só na relação estética com o objeto o sujeito é livre. A relação estética liberta igualmente o sujeito para a sua própria peculiaridade. O que caracteriza o objeto artístico é a liberdade e a ausência de coerção. A relação estética não acossa em sentido algum o objeto, nada lhe impõe de exterior. A arte é uma práxis de liberdade e de reconciliação"

Byung-Chul Han, A Salvação do Belo, trad. Miguel Serras Pereira, Lisboa: Relógio D'Água, 2016, pp. 67-68.  

HOJE

 


"Hoje, não é só o belo, mas também o feio, a tornar-se polido. Também o feio perde a negatividade do diabólico, do sinistro ou do terrível, e amaciam-no do mesmo modo, tornando-o uma fórmula de consumo e fruição. Carece por completo desse olhar de medusa que infunde medo e terror e faz com que tudo se torne pedra. O feio, tal como o usaram os artistas e poetas fin de siècle, tinha alguma coisa de abissal e de demoníaco."

Byung-Chul Han, A Salvação do Belo, trad. Miguel Serras Pereira, Lisboa: Relógio D'Água, 2016, p. 17. 

Thursday, February 17, 2022

VOLÚPIA

 



"Como é voluptuoso ver no ar
desfazerem-se os botões de uma rosa
à luz da madrugada, 
quando ela ainda mal desperta!"


Adonis, O Arco-Íris do Instante, trad. Nuno Júdice, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2016, p. 53. 

OBSCURIDADE

 


"O abismo ensinou-me que não podemos compreender um problema a não ser por intermédio de um outro problema e através dele, como se o homem não avançasse indo do obscuro para a luz, como é hábito pensar, mas dirigindo-se para uma outra espécie de obscuro, menos espesso. Essa diferença entre duas obscuridades, chamamos-lhe luz. Felizmente para o homem e para a poesia, não existe claridade suficiente para apagar o obscuro no homem e nas coisas. Se a claridade se tornasse senhora do mundo, a vida seria alterada e a poesia desfeita."

Adonis, O Arco-Íris do Instante, trad. Nuno Júdice, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2016, p. 48.

Tuesday, February 15, 2022

MISERERE

 



"Lemos, porque precisamos de encontrar uma esperança de altura e de luz nesta vida pouco mais amarga do que a morte, e aquilo que interessa não é tanto saber o que a poesia é, quanto o que pode. Será que a poesia pode qualquer coisa? Será que pode realmente ajudar-nos, acolhendo o nosso angustiado Miserere?
A poesia pode."


Teresa Bartolomei, O poeta no inferno - de Dante a Jorie Gaham: a «outra viagem» da poesia, Lisboa: Universidade Católica Editora, 2021, p. 21. 

Monday, February 14, 2022

VALENTIM

 



"Se te não mereço, fulmine-me a água, 
queime-me na boca a fome de pão.
Arda-me na pira como a bruxa antiga, 
lave-me do choro o riso do cão."


António Franco Alexandre, "Aniversário", in Poemas, Lisboa: Assírio & Alvim, 2021, p. 472. 

Sunday, February 13, 2022

ABRIGADOS

 


"Para isso, é preciso, por um lado, que à volta de cada pessoa haja espaço, livre disposição do tempo, possibilidades para a passagem a níveis de atenção cada vez mais elevados, solidão, silêncio. É preciso, ao mesmo tempo, que essa pessoa se sinta abrigada, para que o desespero não a obrigue a fundir-se no colectivo."

Simone Weil, A Pessoa e o Sagrado / A pessoa humana é sagrada?, trad. Rita Sousa Lopes, Lisboa: Guerra e Paz, 2022, p. 38. 

Saturday, February 12, 2022

RAÍZES

 




"Pôr, na boca dos infelizes, palavras que pertencem à região média dos valores, tais como democracia, direito ou pessoa, é dar-lhes um presente que não é susceptível de lhes trazer nenhum bem e que lhes faz inevitavelmente muito mal. 
Estas noções não têm lugar no céu, estão suspensas nos ares e, por esta mesma razão, são incapazes de tocar a terra. 
Somente a luz que cai continuamente do céu fornece a uma árvore a energia que crava profundamente na terra as suas poderosas raízes. A árvore está na verdade enraizada no céu. 
Somente o que vem do céu é susceptível de imprimir realmente uma marca na terra."


Simone Weil, A Pessoa e o Sagrado / A pessoa humana é sagrada?, trad. Rita Sousa Lopes, Lisboa: Guerra e Paz, 2022, p. 53. 

Thursday, February 10, 2022

PÁSSAROS ENGAIOLADOS

 


" - Meu Deus - murmurou, e olhou para a coisa que a mulher fizera. Ela devia estar toda ufana e orgulhosa de si própria, pensou, por ter feito tanto de tão pouco. Ora, esta coisa parecia viva. Semicerrou novamente os olhos. O que era? Pássaros engaiolados? Seria uma nuvem de fumo, com chamas pelo meio? Tanto de tão pouco; e resmungou para si próprio algo sobre a impossibilidade de tirar água de uma pedra."


Thomas Savage, O Poder do Cão, trad. Elsa Vieira, Alfragide: Edições ASA II, 2021, p. 138. 

Wednesday, February 9, 2022

CASA


"Aí é a casa do silêncio que não fala, a da memória do século que apodrece e o poema tem dificuldade em dar a ouvir, ainda que só no silêncio das entrelinhas. É a casa do silêncio mudo."

João Barrento, Breviário do Silêncio, s.l. Edições Alambique, 2021, p. 108. 

Monday, February 7, 2022

BONDOSO

 



" - Não tenho a certeza, pai - murmurou Peter. 
- Diria, Peter, para nunca quereres saber do que as pessoas dizem. As pessoas nunca conhecem o que vai no coração dos outros.
- Nunca hei de querer saber o que as pessoas dizem.
- E, Peter, por favor não o digas bem assim. A maioria das pessoas que não querem saber... a maior parte delas torna-se dura, endurece. Tens de ser bondoso, tens de ser bondoso. Acho que o homem que serás um dia conseguiria magoar terrivelmente os outros, porque tu és forte. Compreendes o que é a bondade, Peter?
- Não tenho a certeza, pai. 
- Bom. Ser bondoso é tentar remover os obstáculos do caminho daqueles que nos amam ou precisam de nós. 
- Isso compreendo."


Thomas Savage, O Poder do Cão, trad. Elsa Vieira, Alfragide: Edições ASA II, 2021, pp. 50-51. 

Sunday, February 6, 2022

BONDADE

 



" - Mas digo-lhe uma coisa, John - disse o diretor, e olhou par o crânio que tinha em cima da secretária. - Tenho olhos e tenho ouvidos e sei que você é provavelmente um dos jovens mais naturalmente bondosos que jamais conheci. 
- Bondoso? - perguntou John. - Bondoso? Nunca reparei que era um homem bondoso, senhor. 
- Talvez não - disse o diretor enquanto fumava cachimbo: com autoridade. - Foi por isso que disse naturalmente bondoso. Deriva, dizem-me estes novos tipos da psiquiatria, de uma certa sensibilidade. E...
- E o quê, senhor?
- Por vezes temos de controlar a sensibilidade. Pode ser perigosa. Não sei se será um traço particularmente valioso para um médico. É uma pena, mas aí tem."


Thomas Savage, O Poder do Cão, trad. Elsa Vieira, Alfragide: Edições ASA II, 2021, p. 30. 

Saturday, February 5, 2022

TRASEIRAS

 



"espero que bata à porta das traseiras mas o desejo de vê-lo deve ter-me afectado o corpo e o espírito. Já cantava, e dançava, fico triste."


Maria Gabriela Llansol, Um Beijo Dado Mais Tarde, Lisboa: Assírio & Alvim, 2016, p. 97. 

Friday, February 4, 2022

A SOMBRA

 


"A sombra dá o sentido e a verdade. O silêncio (que é a sombra da palavra) dá corpo ao enigma e aponta para o insondável, que é a verdade despida de quaisquer atributos. Ela é a noite ganha pelo silêncio, a palavra que por fim dá testemunho."

João Barrento, Breviário do Silêncio, s.l. Edições Alambique, 2021, p. 111. 

Thursday, February 3, 2022

RELAÇÃO

 


"Há, pois, uma tendência bastante geral para reconhecer, entre o homem e as coisas, não já a relação de distância e de dominação que existe entre o espírito soberano e o pedaço de certa na célebre análise de Descartes, mas uma relação menos clara, uma proximidade vertiginosa que nos impede de nos apreendermos como puro espírito ao lado das coisas, ou de definir as coisas como puros objectos e sem qualquer atributo humano."

Maurice de Merleau-Ponty, Palestras, III, trad. Artur Morão, Lisboa: Edições 70, 2003, pp. 37-38. 

Wednesday, February 2, 2022

FECHAR OS OLHOS

 



"Oh! Como é miserável a condição da vida humana, onde se corre tantos perigos e onde se chega tão dificilmente ao conhecimento da verdade! O que há de mais claro e verdadeiro parece-nos mais obscuro e mais incerto: fugimos do que mais nos convém; e, pelo contrário, o que brilha mais e satisfaz o nosso olhar é o que abraçamos e perseguimos, quando se trata do que há de pior para nós e de um perigo constante para a alma. Quem poderá dizer os perigos e os alarmes em que vive o homem na terra! De facto, a luz natural que nos deve guiar é a primeira a deslumbrar-nos e a perder-nos, no nosso caminho para Deus! Se se quiser encontrar o caminho seguro, é necessário fechar os olhos e caminhar nas trevas, para evitar os inimigos domésticos, quer dizer, os nossos sentidos e as nossas capacidades."


São João da Cruz, A Noite Obscura, trad. Teresa Antunes Cardoso e Armando Pereira da Silva, Lisboa: Editorial Estampa, 1993, p. 175. 

Tuesday, February 1, 2022

CLAREIRA


 

"Eu ardo no vazio, criando na imagem da clareira o obstáculo raro que impediria a sua partida; convertemos em meia palavra o que estamos a sentir"


Maria Gabriela Llansol, Um Beijo Dado Mais Tarde, Lisboa: Assírio & Alvim, 2016, p. 77.