Saturday, October 31, 2015

CHORA


"O tempo é uma coisa muito estranha. Pesa mais para aqueles que o têm a menos. Nada é mais leve do que ser jovem e trazer o mundo às costas."

Ian Caldwell e Dustin Thompson, A Regra de Quatro, trad. Maria Eduarda Colares, Lisboa: Presença/sicidea, 2006, p. 12. 

Friday, October 30, 2015

QUEM



"Quem tira do nada uma forma divina?
Quem finge uma imagem de negro terror?
Quem ergue virtudes, e o crime fulmina?
Quem risos excita, quem prantos de dor?"


Soares de Passos, Poesias, 11ª ed., Porto: Lello & Irmão, 1967, p. 194.

Thursday, October 29, 2015

MACABER



"A desoras, quando treme o arvoredo, 
E o Silêncio esmaga as fortes Ventanias, 
No baile macabro damos as mãos frias
E vamos dançar cancans que metem medo. 

E quem sabe lá, profunda Noite escura, 
Se as voltas que demos quando ainda não
Das voltas que demos quando ainda não
Tínhamos descido à negra vala impura. 

Ai quem sabe lá! que a Vida é um enigma
Aonde entramos rindo sem pensar na vida...
Vale mais morrer, que a Morte é a saída
Dessa pena injusta, desse infame estigma."


José Duro, Fel, 11ª ed., Lisboa: Guimarães Editores, 1983, p. 35. 

Wednesday, October 28, 2015

IDADE PASSADA



"Cardeal de Montmorency - Eu sei, eu também sei... Recordar é viver, 
Transformar num sorriso o que nos fez sofrer, 
Ressurgir dentro d'alma uma idade passada, 
Como em capela de oiro, há cem anos fechada,
Onde não vai ninguém, mas onde há festa ainda..."


Júlio Dantas, A Ceia dos Cardeais, 51ª ed., Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1973, p. 28. 

Tuesday, October 27, 2015

SUSPENSE



"O que é um problema? Para os Gregos, era visto como qualquer coisa lançada à nossa frente, qualquer coisa que é lançada de tal maneira que não nos deixa avançar, que nos obriga a suspender o passo."

Maria Filomena Molder, As Nuvens e o Vaso Sagrado, Lisboa: Relógio D'Água, 2014, p. 153. 

Sunday, October 25, 2015

PRAGMATISMO



"O que é um homem? Um tipo dispara contra ele uma espingarda e acabou-se o homem!"


Alexei Tolstoi, Aelita, trad. espanhol Paulo Costa, Lisboa: Editorial Caminho, 1981, p. 151. 

Saturday, October 24, 2015

REAL



"Os Atlantes diziam:O mundo real é invisível, intocável e imperceptível. Não tem sabor nem cheiro. O mundo real é o movimento da razão. A meta inicial e final deste movimento é impenetrável. A razão é matéria mais dura que a pedra e mais rápida que a luz. Ao procurar repouso, como toda a matéria, a razão adormece e o seu movimento torna-se mais lento."

Alexei Tolstoi, Aelita, trad. espanhol Paulo Costa, Lisboa: Editorial Caminho, 1981, p.  100. 

Thursday, October 22, 2015

CONVERSÃO



"Converte-te numa sombra, pobre filho de Tuma. Só o mal atrai o mal. Afasta-te de todo o mal. Enterra as tuas imperfeições debaixo dos umbrais da tua cabana. Dirige-te para o grande géiser Soam e lava-te nas suas águas. Serás invisível para o malvado Filho do Céu e em vão o seu olho sanguinário atravessará a tua sombra."

Alexei Tolstoi, Aelita, trad. espanhol Paulo Costa, Lisboa: Editorial Caminho, 1981, p.  81. 

Wednesday, October 21, 2015

EIKASIA



" - Logo, sabes também que se servem de figuras visíveis e estabelecem acerca delas raciocínios, sem contudo pensarem neles, mas naquilo com que se parecem; fazem os seus raciocínios por causa do quadrado em si ou da diagonal em si, mas não daquela cuja imagem traçaram, e do mesmo modo quanto às restantes figuras. Aquilo que eles modelam ou desenham, de que existem as sombras e os reflexos na água, servem-se disso como se fossem imagens, procurando ver o que não pode avistar-se, senão pelo pensamento."


Platão, A República, VI, 510e, trad. Maria Helena da Rocha Pereira, 8ª ed., Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1996, p. 315. 

Tuesday, October 20, 2015

NATURAL



"Quando, seguindo o caminho natural que leva à alma, aí chega, enche totalmente a alma e as aberturas das asas que, recebendo nova vitalidade, ganha nova plumagem e, por sua vez, a alma do amado fica também cheia de amor!"

Platão, Fedro, 255d, trad. Pinharanda Gomes, 6ª ed.,, Lisboa: Guimarães Editores, 2000, p. 77. 

Monday, October 19, 2015

ATINGIR



"Do que dissemos, atingimos a quarta espécie de delírio, sim, do delírio: quando, vivendo neste mundo, se consegue vislumbrar alguma coisa bela. A alma recorda-se então da Beleza real e deseja subir cada vez mais alto, como se fosse uma ave."

Platão, Fedro, 249d, trad. Pinharanda Gomes, 6ª ed.,, Lisboa: Guimarães Editores, 2000, p. 65. 

Saturday, October 17, 2015

HIMEROS



"Mas, quando se encontra separada do objecto amado, sente-se fenecer. As aberturas pelas quais saem as asas começam a murchar e, logo que se fecham, interceptam o crescimento da asa."

Platão, Fedro, 251d, trad. Pinharanda Gomes, 6ª ed.,, Lisboa: Guimarães Editores, 2000, p. 69. 

Thursday, October 15, 2015

PRESSÁGIOS


"- Não te preocupes, hei-de voltar. As balas e as baionetas pouparam-me durante sete anos. A minha hora ainda não chegou, mas quando chegar não haverá nada que me salve, passará uma mosca, tocar-me-á com uma patinha e catrapus: morto."

Alexei Tolstoi, Aelita, trad. espanhol Paulo Costa, Lisboa: Editorial Caminho, 1981, p.  29. 

Wednesday, October 14, 2015

ABANDONO


" - É difícil abandonar a Terra - disse. - É como abandonar a própria casa. Quando saí da aldeia para tomar o comboio, voltei com a cabeça dez vezes. O telhado da minha casa era de colmo, mas aquilo era um lugar meu, a que estava habituado. Como será possível abandonar a Terra?..."

Alexei Tolstoi, Aelita, trad. espanhol Paulo Costa, Lisboa: Editorial Caminho, 1981, p. 18. 

Tuesday, October 13, 2015

IMOBILIS


"No espaço interstelar deslocam-se os pedaços de planetas de mundos que ainda não nasceram ou já estão mortos. Ao penetrarem no ar, incendeiam-se instantaneamente. O ar é uma couraça quase impenetrável. Embora o da Terra, sem a mínima dúvida, tenha sido perfurado pelo menos uma vez."

Alexei Tolstoi, Aelita, trad. espanhol Paulo Costa, Lisboa: Editorial Caminho, 1981, p. 15. 

Monday, October 12, 2015

CARCOMIDO


" - Os bichos comem a gente. 
Ele tocou-lhe com a mão. 
- Mas a gente não é só isso, entende? Dentro desse corpo, Virgínia, há como que um sopro, isso é o que a gente é de verdade. E isso não morre nunca. Com a morte, esse sopro se liberta, vai-se embora varando as esferas todas, completamente livre, tão livre... o corpo se apaga como uma lâmpada, esfria como... - e Daniel fez uma pausa, vagando o olhar em redor. - Exactamente como um ferro de engomar que você desliga: assim que a tomada é arrancada, o ferro vai esfriando, esfriando, e se transforma apenas num peso morto, sem calor, sem vida. A diferença é que o calor do ferro eléctrico se perde quando é desligado, ao passo que esse calor das suas mãos, esse brilho dos seus olhos, esse sopro esse alento...  - Calou-se. Apertou um pouco os olhos que reflectiam uma intensa paz: - Ah, meu bem, se eu pudesse fazê-la entender! Triste é o que está acontecendo agora e não o que vem depois."

Lygia Fagundes Telles, Ciranda de Pedra, Lisboa: Livros do Brasil, s.d., p. 71. 

Sunday, October 11, 2015

FETAL



"Sempre o silêncio da floresta, apenas cortado por esses ruídos originais e inexplicáveis, que são o mistério da natureza selvagem, como um murmúrio de mistérios que só despertam terror; sempre a ignorância do nosso fim, o angustioso lembrar das misérias que nos esperavam, excruciando-nos a alma, repugnando à consciência o facto de havermos provocado tamanho sofrer!"

H. Capelo e R. Ivens, De Angola à Contracosta, vol. I, Mem Martins: Publicações Europa-América, s.d., pp. 305-306. 

Saturday, October 10, 2015

EIDOLON



"- Mas... e se ela sarar, se puder viver como todo o mundo? 
Ele deixou cair no cinzeiro o cigarro que se apagara. 
- Uma vez, quando eu era menor ainda do que você, brincava com um espelhinho à beira de um poço na minha casa, eu morava numa fazenda meio selvagem. O poço estava seco e era bonito o reflexo do espelhinho correndo como uma lanterna pela parede escura, sabe como é, não? Mas de repente o espelho caiu e se espatifou lá no fundo. Fiquei desesperado, tinha vontade de me atirar lá dentro para ir buscar os cacos do meu espelho. Então alguém - acho que foi o meu pai - levou-me pela mão e me consolou dizendo que não adiantava mais porque mesmo que eu juntasse, um por um, os cacos todos, nunca mais o espelho seria como antes. Sabe, Virgínia, vejo Laura como aquele espelho despedaçado: a gente pode ir lá no fundo e colar os cacos, mas tudo o que ele vier a reflectir, o céu, as árvores, as pessoas, tudo, tudo estará como ele próprio, partido em mil pedaços. Veja bem, triste não é o que possa vir a acontecer... a morte, por exemplo. Triste é o que está acontecendo neste instante. Ela tem a cabeça doente, o coração doente... E não há remédio. Só o sopro lá dentro é que continua perfeito como o espelho antes de cair no chão."

Lygia Fagundes Telles, Ciranda de Pedra, Lisboa: Livros do Brasil, s.d., p. 72. 

Friday, October 9, 2015

CONVERSA


"A felicidade está onde a pomos
É preciso reentrar no paraíso. 

Pequena, animosa mata de ulmeiros.
Bolbo vivaz de begónia. 
Um abraço. Beijo
que não finda suas dinastias. 

O império de só matar a sede. 
A sombra de um cego ainda descortina."


António Osório, "Outra Face", ed. Eduardo Lourenço, Lisboa: Presença, 1984, p. 229. 

Wednesday, October 7, 2015

PHYSIS



"O Sol não é por natureza fogo, mas antes um reflexo do fogo como o que vem da água."


Empédocles de Agrigento, in Kirk, G. S. e Raven, J. E., Os Filósofos Pré-Socráticos, trad. Carlos Alberto Louro da Fonseca, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1979, p. 345.  

Tuesday, October 6, 2015

OS DEUSES



"169. Homero e Hesíodo atribuíram aos deuses tudo quanto entre os homens é vergonhoso e censurável, roubos, adultérios e mentiras recíprocas.
170. Mas os mortais imaginam que os deuses foram gerados e que têm vestuário e fala e corpos iguais aos seus. 
171. Os Etíopes dizem que os seus deuses são negros e de nariz achatado, os Trácios, que os seus têm olhos azuis e o cabelo ruivo.
172. Mas se os bois ou os cavalos ou os leões tivessem mãos ou fossem capazes de, com elas, desenhar e produzir obras, como os homens, os cavalos desenhariam as formas dos deuses semelhantes às dos cavalos, e os bois às dos bois, e fariam os seus corpos tal como cada um deles o tem."


Xenófanes de Colófon, in Kirk, G. S. e Raven, J. E., Os Filósofos Pré-Socráticos, trad. Carlos Alberto Louro da Fonseca, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1979, p. 169. 

Monday, October 5, 2015

INEVITÁVEL



"É inevitável que tudo aquilo que perfaz deste modo seja belo. Se, pelo contrário, pusesse os olhos no que devém e tomasse como arquétipo algo deveniente, a sua obra não seria bela."

Platão, Timeu, 28b, trad. Rudolfo Lopes, Coimbra: Centro de Estudos Clássicos e Humanistas da Universidade de Coimbra, 2011, p. 94. 

Sunday, October 4, 2015

PARADEIGMATA



"Eu sempre a Platão assisto. 
Pessoalmente, porém, e creia que não
Tenho qualquer insuficiência nisto, 
Sou um romano da decadência total, 
Aquela do século IV depois de Cristo, 
Com os bárbaros à porta e Júpiter no quintal."


Mário Cesariny, O Virgem Negra - Fernando Pessoa explicado às Criancinhas Naturais e Estrangeiras por M.C.V., 3ª ed., Lisboa: Assírio & Alvim, 2015, p. 19. 

Saturday, October 3, 2015

PHARMAKON



"- Que coisa mais estranha, meus amigos, é isso a que os homens chamam de prazer! Quão surpreendentemente está unido àquilo que parecia o seu oposto: a dor! Os dois não se apresentam ao homem ao mesmo tempo, mas, ao se perseguir e alcançar um deles, fica-se invariavelmente obrigado a acolher também o outro, como se fossem dois seres ligados a uma única cabeça."

Platão, Fédon, 60b, trad. Adelino Dias, Porto: Areal Editores, 2005, p. 48. 

Thursday, October 1, 2015

DÉCIMA PORTA


"Uma terceira consequência é a de que não devemos julgar respondidas, nos antigos, as questões da nossa consciência, do nosso interesse."

Georg Wilhelm Friedrich Hegel, Introdução à História da Filosofia, trad. Artur Morão, Lisboa: Edições 70, 1991, p. 117.