Friday, August 31, 2007

LIMBO



NIRVANA

Para além do Universo luminoso
Cheio de formas, de rumor, de lida,
De forças, de desejos e de vida,
Abre-se como um vácuo tenebroso.

A onda desse mar tumultuoso
Vem ali expirar, esmaecida...
Numa imobilidade indefinida
Termina ali o ser, inerte, ocioso...

E quando o pensamento, assim absorto,
Emerge a custo desse mundo morto
E torna as coisas naturais,

À bela luz da vida, ampla, infinita,
Só vê com tédio, em tudo quanto fita,
A ilusão e o vazio universais.


Antero de Quental, Sonetos (1874-1880)

Monday, August 27, 2007

MEMÓRIA DE ALEXANDRE MAGNO NO DISFARCE DO TEMPO

G. Ny-Carlsberg, Copenhaga


"O poder dos deuses move-se devagar, mas agora está seguro. Exige contas aos mortais que praticam a incredulidade e que, no desvario do orgulho não contribuem para o trinfo dos deuses. O poder dos deuses disfarça o andar do tempo numa astuta lentidão e persegue o ímpio. Nunca se deve imaginar ou pensar o que está acima das leis. É fácil reconhecer a potência da divindade, seja esta quem for, como também dos costumes sancionados pela longa sequência dos tempos e pela natureza. Que é a sabedoria? Que dom mais belo oferecem os deuses aos mortais do que impor a mão vitoriosa sobre a cabeça dos inimigos?" (Terceiro Estásimo)


Eurípides, As Bacantes, trad. Fernando Melro, 2ª ed., Lisboa: Ed. Inquérito, pp. 60-61.