Saturday, April 30, 2022

ANIVERSÁRIO

 



"Num mundo onde se combate o paganismo intelectual, não podemos invocar o culto do homem ininteligível sem que nos acusem de ódio. É o que fazemos. Nesta negação de pacto com as coisas infrutiferamente exploradas pelo cérebro, há uma atitude nova, o fundamento dum novo amor ou, se quiserem, da sua integridade universal."

 

Agustina Bessa-Luís, A Muralha, Lisboa: Amigos do Livro/TV Guia, 1986, p. 145. 

Friday, April 29, 2022

COMPREENDER

 



"Na arte não procuremos compreender; compreender é, as mais das vezes, um jogo pueril e ingénuo, a confissão de uma sensibilidade amortecida, a vingança intelectual do espectador incomodado por anestesia artística. Aquele que não compreende e se obstina a compreender, é a priori o que não sente."


Victor Segalen, O Duplo Rimbaud, trad. Aníbal Fernandes, Lisboa: Sistema Solar, 2022, p. 47. 

Wednesday, April 27, 2022

ONDE COMEÇA

 



"Na paisagem do rio
difícil é saber
onde começa o rio;
onde a lama
começa do rio;
onde a terra
começa da lama;
onde o homem,
onde a pele
começa da lama;
onde começa o homem
naquele homem."

João Cabral de Melo Neto, "O Cão Sem Plumas", in Poesia Completa - 1940-1980, Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1986, p. 386. 

Tuesday, April 26, 2022

REVOADAS

 



"Perco-me entre azuis: o do céu, 
o do mar, o dos riachos...
Contra o azul trinam os pássaros
e fazem seus ninhos nas árvores próximas. 
Vejo nitidamente as revoadas de pássaros no céu
como se fossem uma nuvem escura.
A natureza escreve dentro dos meus olhos, 
dá-me as imagens que levam às palavras.
E nas palavras esconde sons que alguns, 
depois, vão adivinhar. 
Minha mãe saiu hoje.
Pediu-me que comprasse pão e trouxesse
os ovos das galinhas do campo.
Uma mãe pede, mas recebe muito mais. 
O sorriso é como uma luz
que lhe ilumina o rosto. 
As suas tarefas fazem-na cantar."


Maria Teresa Dias Furtado, Ofício da água, Braga: Poética Edições, 2022, p. 41.

Monday, April 25, 2022

SENSAÇÕES

 



"Sensações, disse-lhe o seu amigo, não mais um desconhecido. Sentimentos. O que tu queres é um sinal, um sinal de verdade, digno de um profeta. Se és um profeta, seria justo que se tratassem como tal. Quando Jonas fugiu às suas responsabilidades, foi lançado para um ventre de trevas durante três dias e depois vomitado no destino da sua missão. Isso foi um sinal; não foi nenhuma sensação. 
Preciso de queimar todo o meu tempo a endireitar-te as ideias. Olha bem para ti, disse-lhe ele - a frequentar aquele bordel de Deus, para lá sentado feito macaco a deixar aquela pirralha encher-te os ouvidos. O que esperavas encontrar ali? O que esperavas ouvir? Deus fala aos profetas pessoalmente e nunca te falou a ti, nunca mexeu uma palha, nunca esboçou um gesto. E quanto àquela estranheza que sentes nas entranhas, ela vem de ti, e não de Deus. Quando eras menino tiveste lombrigas. Não é de todo improvável que as tenhas outra vez."


Flannery O’Connor, O Céu É dos Violentos, trad. Luís Coimbra, Lisboa: Relógio D’Água, 2014, p. 130. 

Sunday, April 24, 2022

O DIA DO LIVRO

 



"Dizer que lemos - o mundo, o livro, o corpo - não é suficiente. A metáfora da leitura requer, por sua vez, uma outra metáfora, necessita de ser explicada em imagens que se encontram fora da biblioteca do leitor e, no entanto, dentro do seu corpo, de modo que a função de ler se relacione com as nossas outras funções orgânicas essenciais."


Alberto Manguel, Uma História da Leitura, trad. Ana Saldanha, Lisboa: Editorial Presença, 1998, p. 179. 

Friday, April 22, 2022

DA CASA

 



"Uma Casa a Sério não precisa de ser logo um monumento, mas há-de ter uma porta na frente e uma porta atrás, um sótão e uma cave, uma chaminé só para ela, e poder andar-se-lhe à volta. Uma Casa a Sério é uma casa como as crianças a desenham. Com um atalho que serpentei até ela.  Com fumo a sair em volutas da chaminé. Com o espaço para a arvorezinha e o bichinho. 
Um andar, ou uma casa em banda, ou um apartamento não serão nunca uma Casa a Sério, porque o chão é o tecto do vizinho. Ou o quarto ao lado pertence a outro número de porta. Uma Casa a Sério não tem número de porta."


Gerrit Komrij, Um Almoço de Negócios em Sintra, trad. Fernando Venâncio, Lisboa: Guerra & Paz, 2022, p. 15. 


Wednesday, April 20, 2022

PERDURAÇÃO

 



"A conspícua e quase festiva maneira como Teresina evocava os últimos momentos da irmã e a sua infância comum causava-lhe um sentimento de frieza e até de repugnância. Porque mexer nas cinzas porque carregar o peso dos mortos? A memória é quase sempre uma espécie de despeito dos que não têm futuro, é a musa de toda a impotência, é um vaso que contém a história e as formas falíveis ou fraudulentas da sua perduração."


Agustina Bessa-Luís, A Muralha, Lisboa: Amigos do Livro/TV Guia, 1986, p. 172. 

Tuesday, April 19, 2022

BROTAR

 


"Como os rios, brotamos continuamente, vencendo a escuridão da terra, vencendo a pedra e a montanha; como o trovão, suspendemos o silêncio, e como o vento o arrebatamos. O amor é da ordem do universo, a sua lei eterna e que proíbe a emancipação da matéria. Servimos e participamos, somos benéficos e destruidores, e Deus vela sobre a razão do bem e do mal."

Agustina Bessa-Luís, A Muralha, Lisboa: Amigos do Livro/TV Guia, 1986, p. 125. 

Monday, April 18, 2022

FULMINADO


“A cabeça de Rayber, como se tivesse sido fulminada por um raio invisível, caiu de cima do parapeito. Ele agachou-se no chão, com os olhos furiosos toldados pelos óculos a brilharem atrás do arbusto. Lá dentro, ela continuou a guinchar: «Estão surdos à Palavra de Deus? A Palavra de Deus é uma Palavra ardente que vos purificará pelo fogo, queima homens e crianças, homens e crianças por igual, meu povo! Sejam salvos no fogo do Senhor, ou deixem-se consumir pelas vossas próprias chamas! Sejam salvos…»”

Flannery O’Connor, O Céu É dos Violentos, trad. Luís Coimbra, Lisboa: Relógio D’Água, 2014, p. 110.

Sunday, April 17, 2022

COROA

 


“Deus, cuja existência é eterno ato, não tem passado nem futuro; a tradição, por conseguinte, não é elemento necessário à existência de Deus. O homem, porém, que vive no tempo, e vai do ventre à sepultura, através de sucessiva cadeia de instantes, não poderia, nem a tradição, estabelecer a unidade dos instantes, nem certificar-se da identidade de sua vida.”

 

Camilo Castelo Branco, Divindade de Jesus, 6.ª ed., Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1927, p. 147. [ort. at.] 

ALEGRIA PASCAL

 


“A Ressurreição 
é o perdão de Cristo
àqueles que O mataram,
o testemunho de que
fazendo-lhe todo o mal possível
não lhe fizeram mal nenhum.”


Simone Weil, À Porta do Farol Faz Escuro, trad. Manuel Simões, Braga: Editorial A.O., 1991, p. 98. 

Saturday, April 16, 2022

O MUNDO

 


“«Os mortos querem lá saber de pormenores», atalhou o rapaz.
O velho agarrou-o pela frente das jardineiras, caçou-o de encontro à lateral do caixão e olhou irado para o rosto pálido do rapaz. «O mundo foi feito para os mortos. Pensa em quantos mortos há aqui», disse-lhe ele, e depois, como se tivesse concebido a resposta, para toda a insolência que há na Terra, acrescentou: «O número de mortos excede o dos vivos em milhões, e os mortos estão mortos milhões de anos mais do que vivem os vivos», e largou-o com uma gargalhada.”

Flannery O’Connor, O Céu É dos Violentos, trad. Luís Coimbra, Lisboa: Relógio D’Água, 2014, p. 22. 


Friday, April 15, 2022

LIVRE (para a memória de Eunice Muñoz)

 



Eunice Muños a representar lembra-me Agustina a escrever. 
Como a beleza são próximas e inacessíveis, como a poesia são cheias de ritmo e de ausência. Como a dança são precisas e livres. São graves e cheias de ternura, como só as mulheres podem ser.”


Daniel Faria, O Livro do Joaquim, Lisboa: Assírio & Alvim, 2019, p. 65. 

PAIXÃO

 


“Cristo na cruz
teve compaixão das suas próprias dores
como se nele se concentrasse 
o sofrimento de toda a humanidade.

O seu grito: 
«Meu Deus, porque me abandonaste?»
foi lançado
em nome de todos os homens. 

Quando este grito 
Sobe de um coração humano, 
a dor acorda
nas profundezas da alma
a parte onde jaz, 
escondida sob crimes acumulados, 
uma inocência igual 
à inocência de Cristo.”


Simone Weil, À Porta do Farol Faz Escuro, trad. Manuel Simões, Braga: Editorial A.O., 1991, p. 107. 

Thursday, April 14, 2022

CENA


"O próprio Cristo 
não julga. 
Ele é o julgamento.
A inocência sofredora
como medida. 

Julgamento, perspectiva. 

Neste sentido, todo o julgamento
julga aquele que o pronuncia. 
Não julgar. 

Não se trata de indiferença
ou de abstenção, 
mas de julgamento transcendente, 
imitação do juízo divino
que não está
ao nosso alcance.”


Simone Weil, À Porta do Farol Faz Escuro, trad. Manuel Simões, Braga: Editorial A.O., 1991, p. 62. 

FUNDAÇÃO

 



“O Cristianismo precisa de ser estudado desprevenidamente, como quem estuda um objeto abstrato, cuja certeza ou falsidade pouco importa a quem o estuda. Cumpre assim falar ao ceticismo; se não, interrogamos logo sobre dificuldades histórias, dificuldades metafísicas, dificuldades da moral. Descrer é que não tem nenhumas dificuldades. 
Estude-se o cristianismo, se isto lhes quadra, como um problema de geometria; mas não valha ao incrédulo a evasiva de «não compreendo». É injudicioso negar a existência dos antípodas, por que não compreendemos os efeitos de Newton. 
O cristianismo é divino por ser fundador.”


Camilo Castelo Branco, Divindade de Jesus, 6.ª ed., Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1927, pp. 74-75. [ort. at.] 

Wednesday, April 13, 2022

VÉU

 


"Por outro lado, o contraste entre Jesus e Barrabás permitiu ilustrar a aceitação do pecador na cruz. De facto, Jesus ocupou literalmente o lugar daquele que merecia a morte. A crucifixão e a morte na cruz são apresentados cada vez mais como um acontecimento cósmico e histórico-salvífico. Quando o véu do Templo se rasga, no momento da morte de Jesus, abre-se o caminho que conduzia ao santo dos santos, que pode conduzir cada um à proximidade com Deus. Quando se abatem as trevas sobre toda a terra, toda a criação experimenta a morte do seu Senhor."

 Joachim Gnilka, Jesus de Nazaré - Mensagem e História, trad. Teresa Martinho Toldy e Marian Toldy, Lisboa: Editorial Presença, 1999, p. 300. 

Tuesday, April 12, 2022

APREÇO

 



"Portanto, a serenidade e despreocupação, que não devem ser atenuadas, seriam mal compreendidas se fossem equiparadas a um dolce far niente. Jesus não se manifesta contra o trabalho, mas pressupõe uma natureza ainda intacta. O apreço pela vida causa um efeito libertador. A  vida (em grego: psuchê) é mais do que comida e vestuário. A pessoa, na sua preocupação com estas coisas, pode gastar a sua vida em vão, pode perder o sentido da vida em coisas de importância secundária. É um homem livre e feliz que diz palavras libertas de preocupações angustiantes. As palavras são tão preciosas também porque nos devolvem uma imagem de Jesus muitas vezes esquecida."

 

 Joachim Gnilka, Jesus de Nazaré - Mensagem e História, trad. Teresa Martinho Toldy e Marian Toldy, Lisboa: Editorial Presença, 1999, p. 174. 

Monday, April 11, 2022

AS RAZÕES DO SOFRIMENTO

 


"Parece-me uma triste coisa tentar explorar as estrelas. Falamos do destino como de uma coisa que viesse sobre nós e esquecemos que todos os dias criamos o nosso destino. E, por destino, entendo eu os males que nos cercam; males que são apenas efeitos de causas que não são tão misteriosas como parecem. Muitas das penas que nos afligem são perfeitamente deduzíveis do nosso comportamento. As razões do sofrimento do homem não estão nas devastações causadas pelos terramotos e pelos vulcões, pelos tornados ou pelos macaréus; o homem sofre por causa das suas faltas, das suas loucuras, da sua ignorância, do seu desprezo pelas leis naturais. O homem pode eliminar a guerra, a doença, a velhice e, provavelmente, a morte. Não precisa de viver na pobreza, no vício, na ignorância, perdido em rivalidades e competições. Tudo isto lhe é devido e tudo isto o homem tem poderes para modificar. Mas essa alteração não se pode fazer se se contar apenas com o seu destino pessoal."


Henry Miller, Um Diabo no Paraíso, trad. Estêvão Sasportes, Lisboa: Livros do Brasil/Unibolso, s.d. pp. 88-89. 

Sunday, April 10, 2022

RAMOS/ANIVERSÁRIO

 



"Não adormeças, não adormeças ainda. Falta dizer-te que a mulher que vendia lixívia, no tempo da Páscoa, trazia tinta para tingir os ovos."


Daniel Faria, Sétimo Dia, I: 19., Lisboa: Assírio & Alvim, 2021, p. 51. 

Friday, April 8, 2022

COISA BELA

 




"Uma coisa bela
não contém nenhum bem, 
a não ser ela própria, 
na sua totalidade, 
tal como nos aparece. 

Vamos até ela
sem saber que lhe pedir. 
E ela oferece-nos a própria existência.
Não desejamos outra coisa, 
já possuímos
mas desejamos ainda. 
Só que ignoramos
absolutamente o quê."


Simone Weil, À porta do farol faz escuro, trad. Manuel Simões, Braga: Editorial A.O., 1991, p. 83. 

Wednesday, April 6, 2022

COMO OS RIOS

 



"Como os rios, brotamos continuamente, vencendo a escuridão da terra, vencendo a pedra e a montanha; como o trovão, suspendemos o silêncio, e como o vento o arrebatamos. O amor é da ordem do universo, a sua lei eterna e que proíbe a emancipação da matéria. Servimos e participamos, como benéficos e destruidores, e Deus vela sobre a razão do bem e do mal."


Agustina Bessa-Luís, A Muralha, Lisboa: Amigos do Livro/TV Guia, 1986, p. 125. 

Tuesday, April 5, 2022

REGRESSAR

 



"No turbilhão da vida, só serão felizes os homens
que se julgam sábios e os que não procuram instruir-se.
Fui debruçar-me sobre todos os segredos do universo
e regressei à minha solidão, invejando os cegos que encontrava."


Omar Khayyam, Rubaiyat, trad. Fernando Castro, 3ª ed., Lisboa: Editorial Estampa, 1999, p. 43. 

Monday, April 4, 2022

GANHAR O TEMPO

 


"Agora é o tempo da decisão. O presente está sob o impacto do futuro, um futuro premente. Mas o acento não é colocado neste, antes, é colocado no presente criado pelo futuro. Quem compreende o presente, se decide correctamente agora, ganha tempo, ganha o futuro. No  que diz respeito à soberania de Deus, isto significa que ela já se encontra presente, é definitivamente iminente. A soberania de Deus revelar-se-á definitivamente no futuro, mas já qualifica o presente, através da actuação de Jesus. No presente, a soberania de Deus é algo ameaçado, combatido, rejeitado, que exige do ser humano uma tomada de posição."


Joachim Gnilka, Jesus de Nazaré - Mensagem e História, trad. Teresa Martinho Toldy e Marian Toldy, Lisboa: Editorial Presença, 1999, p. 141. 

Sunday, April 3, 2022

PASSOS

 



"Portanto, pode dizer-se, tanto do comportamento de Jesus como das suas parábolas, que o perdão desencadeia um recomeço, quer dizer, a conversão, porque a possibilita. Primeiro, está o perdão, a oferta de salvação, não a exigência de conversão. Para Jesus, a conversão só é possível neste sentido."


Joachim Gnilka, Jesus de Nazaré - Mensagem e História, trad. Teresa Martinho Toldy e Marian Toldy, Lisboa: Editorial Presença, 1999, p. 107. 

VERDE E QUENTE (para a memória de Lygia Fagundes Telles)

 


"Conduzido pelo bilheteiro, o velho passou por mim reiniciando o seu afectuoso diálogo com o vizinho invisível. Saí por último da barca. Duas vezes voltei-me ainda para ver o rio. E pude imaginá-lo como seria de manhã cedo: verde e quente. Verde e quente."


Lygia Fagundes Telles, "Natal na Barca", in Antes do Baile Verde, Lisboa: Círculo de Leitores, 1974, p. 140. 

Saturday, April 2, 2022

PRINCÍPIO E CONSUMAÇÃO

 


"Como ousamos subdividir o tempo, como queremos dar às épocas um nome e uma sinalização própria? Assim é. Em tudo há um princípio e uma consumação, na vida, nas coisas do espírito, na criação das grandes ideias, na sua aplicação e desfalecimento. Olhamos como uma lufada faz estremecer as folhas distantes de nós, e sabemos o tempo que demora para sentirmos o vento no próprio rosto. Prevêem-se as trajectórias dos astros e das mensagens do homem e os fenómenos que provocam. De tudo o que passa há um resultado em que se edificam novas leis - nada é fatal."

Agustina Bessa-Luís, A Muralha, Lisboa: Amigos do Livro/TV Guia, 1986, p. 104. 

Friday, April 1, 2022

ABRIL NOVENTA E UM

 



"Pita e Eusébia dão as mãos. No princípio do andar
Está o pensar pronto a desatar os passos que se
Ensarilham. Para já, nas mãos cobertas de rugas
Fortes, seus olhos vivos continuam a reflectir-se 
Na inexperiência."


Maria Gabriela Llansol, O Começo de um Livro é Precioso, Lisboa: Assírio & Alvim, 
2003, n.º 91.