Sunday, December 31, 2017

FINDA



"Depois de os deuses terem ocupado a casa
sou um homem novo. 
Só eu e quem escolho sabemos a mentira.
Enquanto os rios vão no escuro, corrompo."


Joaquim Manuel Magalhães, "Consequência do Lugar", in Alguns Livros Reunidos, Lisboa: Contexto, 1987, p. 35. 

INCESSANTES


"dito de outro modo, 

quando se chega a avistar o mar (como ao princípio estivemos quase), «antes do mergulho largo entre as suas águas incessantes», o olhar não pode nele descobrir, com a mesma serena alegria, que está perante a mesa do dia, a face brilhante e mais vertiginosa da mesa do sol?"


Manuel Gusmão, dois sóis, a rosa - a arquitectura do mundo, Lisboa: Caminho, 1990, p. 78. 

PERTO



"Dissipa-se a névoa,
Já clareia o céu, 
E Éolo abre
A prisão que aterra. 
Sussurram os ventos, 
O barqueiro desperta. 
Depressa! Depressa!
Aparta-se a onda, 
O longe está perto; 
E já vejo terra!"


J. W. Goethe, Poesia, trad. João Barrento, Lisboa: Círculo de Leitores, 1993, p. 135. 

ESPERA



"Os barcos encostam à pedra. 
cavos, no negrume. 
Esquece o engano do deserto.
Tudo é sagrado.
Sinal de outra coisa ainda."


Joaquim Manuel Magalhães, "Consequência do Lugar", in Alguns Livros Reunidos, Lisboa: Contexto, 1987, p. 31. 

CONSELHO 2



"Nunca gostei dos apóstolos da liberdade;
    Cada um procurava, afinal, apenas a sua arbitrariedade.
Se queres libertar muitos, ousa servir muitos.
    Queres saber até que ponto isso é perigoso? Então experimenta!"


J. W. Goethe, Poesia, trad. João Barrento, Lisboa: Círculo de Leitores, 1993, p. 95. 

CONSELHO 1



"Que é uma vida humana? Mas milhares podem
Falar desse homem, do que fez e de como o fez.
Menos é um poema; contudo, a mil pode dar gozo, 
Milhares o podem criticar. Meu amigo, continua a 
                                     viver e a escrever poemas."


J. W. Goethe, Poesia, trad. João Barrento, Lisboa: Círculo de Leitores, 1993, p. 94.

Saturday, December 30, 2017

LONGE



"A terra até ao nevoeiro dos montes longe, 
os pombos com a melancolia dos olhos a segui-los, 
recolho ao silêncio, à chuva. 
As ruas calcadas pela luz
abrem na cor desolada dos outeiros. 

Árvore do inverno de que perdi o nome, 
um sentimento como voltará?"


Joaquim Manuel Magalhães, "Quartzo", in Alguns Livros Reunidos, Lisboa: Contexto, 1987, p. 77. 

MESO


"NUNCA VIMOS DEUS

Mas deve estar no meio de nós
no meio dos que estão sós
no meio dos céus;
dos seus. 

No meio dos rios vazios. 

Num vale sempre igual. 

Nas rosas majestosas
que há nas covas. 

Por vezes, quando amanhece, 
e um de nós se lembra e esquece
diz o que viu e o que fez
durante a noite, uma vez, 
e pede a Deus pelos seus
que os visite e que os avise; 
Deus não responde ao pedido
como um Deus desconhecido
ou tão antigo que é tido
como um jazigo
vendido.

Nós nunca vimos Deus. 

(E nem sequer somos ateus...)

Só sabemos que ama os seus;
patrulha os céus e as estradas
em carruagens geladas. 

Cansado dos fariseus
perseguindo os maniqueus
com fama de não ter chama. 

Sabemos que fala e que responde
(só não sabemos é onde)
que se reúne e perscruta
que se inflama e que conclama
e que disputa e que luta
que se exalta e que se agita
(às vezes pula e até grita...)
e que conversa e que chama
só não sabemos quem
ou com quem
ou se alguém
o ouviu
ou viu
ou escuta
ou ama
ou trama. 

Não é bem disputa. 

É só uma evidência astral
astuta, bruta,
puta.

Nós nunca vimos Deus.

(Não tem mal...)

Porque cada um
dos mil véus
que há nos céus
tem mil véus;
tem mil réus."


António Ladeira, in Piolho, Revista de poesia, n.º 24, dezembro de 2017, pp. 9-10. 

Friday, December 29, 2017

FRACTURA



"A imagem desempenha o papel de uma nova dimensão, ou seja, o órgão desta dimensão. Acaba por modificar a continuidade e um determinado espaço e introduz o contrário de uma fractura ou a fractura."

Paul Valéry, Apontamentos. Arte, Literatura, Política & Outros, trad. Luís Fernando Quaresma, Lisboa: Editora Pergaminho, 1994, p. 71. 

Thursday, December 28, 2017

COMUNEROS


"Em 1443, é novamente referida a presença da rainha viúva de Portugal na corte castelhana, em Tordesilhas, antes de todos se dirigirem a Torrelobatón, onde decorreu, a 1 de setembro, o consórcio de Juan de Navarra com Juana Enríquez, filha do almirante D. Fradique."

Ana Maria S. A. Rodrigues, As Tristes Rainhas - Leonor de Aragão e Isabel de Coimbra, Lisboa: Temas e Debates, 2013, p. 225. 

Wednesday, December 27, 2017

URUEÑA


"Voix de la commedienne: Non, cet espoir - cet espoir est maintenant sans objet. Cette crainte est passée, de perdre un tel lien, une telle prision, un tel mensonge. - Toute cette histoire est maintenant, déjà, passée. Elle s'achève - quelques secondes..."

Alain Robbe-Grillet, L'année dernière à Marienbad, Paris: Éditions J'ai Lu, s.d., p. 28. 

Tuesday, December 26, 2017

TRINDADE



"Façamos d'elle um deus, creando uma nova esperança. 
Os nossos deuses são velhos. Esqueceram-se de nós como de muitos filhos bastardos."


Fernando Pessoa, "Calvario", in Teatro Estático, ed. Filipa de Freitas e Patrício Ferrari, Lisboa: Tinta da China, 2017, p. 195. 

Monday, December 25, 2017

ESTRELA


"Loirenço

Essa che nego. 
E o contrário te prego.
Porque já nasceu a luz
Ó mundo, que estava cego, 
O demo, que arrenego, 
De dó vestiu um capuz.
Ele seja triste, 
E não já eu e tu, que viste
A teu Deus homem nascido, 
Tanto tempo há prometido, 
Como tu dizes que ouviste, 
Desejado e tão sabido."


Anónimo, Prática de Três Pastores, Porto: Editorial Domingos Barreira, s.d., p. 79. 

DE VÉSPERA



"Às vezes, afastando-nos, do cume
dos nossos corações sentíamos
o mar estalar a toda a nossa volta, havia
sobre ele um traço idêntico ao de um vidro fracturado."


Luís Miguel Nava, Poesia Completa, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2002, p. 125. 

Sunday, December 24, 2017

NOITE



"Sobre a palha loura
Dorme, a rir, Jesus:
Tudo a rir se doura
De inocente luz."


Guerra Junqueiro, Poesias Dispersas, Porto: Livraria Chardron, 1920, p. 127. 

OS PRESENTES


"Silvestre

Ora bem!
Se o senhor a isso vem, 
Vamos lá com muita festa
Todos juntos a Belém, 
Porque uma coisa como esta
A prol de todos convém.

Loirenço

Ora aparelhar!
Mas, que lhe hemos de levar?

Rodrigo

Eu levar-lhe-ei um rezente
Que tinha para matar.

Loirenço

E eu hei-lhe de ofertar
Esta samarra, que é quente, 
E um tassalho
Que tenho de vinhadalho
Do barrasco que matei;
E dous queijos que queijei
Quando me deste o coalho
O dia que trasquiei.

Rodrigo

Eu dar lhe-ei mais
Três lingoíças frescais,
E um prospé de lacão
E do meu mel um porrão,
E seis queijadas frescais
Que muito boas lhe serão
Em Belém.

Loirenço

Tu has-de levar também...

Silvestre

E eu que posso levar
Ó senhor que tudo tem?"


Anónimo, Prática de Três Pastores, Porto: Editorial Domingos Barreira, s.d., pp. 48-49. 

Saturday, December 23, 2017

CELESTE


"Nunca digas que deste lume viverás incólume - são os anjos que te tecem como cabelos úteis num corpo muito frio."

Maria Velho da Costa, Da rosa fixa, 2ª ed., Lisboa: Quetzal, 1999, p. 197. 

INTERPELAR



"Bifo saca o primeiro tema, uma frase de Gramsci que Bianca lhes traduz:
«A crise consiste precisamente no facto de que o antigo morre e o novo não pode nascer.»"


Laurent Binet, A Sétima Função da Linguagem, trad. Antonio Sabler, Lisboa: Quetzal, 2017, p. 224. 

Friday, December 22, 2017

ABERTURA



"Aos horizontes abro, e ao sol, o sonho amargo.
Não há sombra que mo consiga perverter, 
nem mais impenitente e mais pesado encargo. 
Só na morte já não cabe nem morrer."


Armindo Rodrigues, "Flauta de Cana", in Obra Poética, Lisboa: Sociedade de Expansão Cultural, 1970, p. 88. 

Thursday, December 21, 2017

O HOMEM ACOSSADO


"Tudo o que a propósito da obra de arte se disser acerca do valor moral, da elevação espiritual, da força salvífica, o ensimesmamento feliz tem apenas, e tão-somente, uma validade limitada. Claro que o homem acossado foge de si próprio com frequência, e com frequência o faz para junto da obra de arte, e nela procura o esquecimento, nela procura orientação pessoal, enobrecimento, alegria e beleza. Mas procura - e encontra - tudo isso nuns poucos instantes, que são preciosos e escassos, de toda a sua pobre vida. E é em função desses instantes que, caso contrário, nunca reverberariam numa vida de trevas, é em função desses segundos, que existe arte no mundo, e é também por isso que ela está no limiar do supremo conteúdo da vida."

Fritz Karpfen, Kitsch, trad. João Tiago Proença, Lisboa: Antígona, 2017, pp. 87-88. 

MUDANÇA


"A nostalgia pseudo-romântica dos bons velhos tempos no estilo e na imagem faz parte daquelas mentiras vitais que nos estupidificam e nos roubam. Vivemos de um modo diferente do dos nossos antepassados e pensamos de um modo diferente do dos nossos avoengos. E assim como estes estão definitivamente mortos, também a época da sua vontade de forma material e artística está morta. Os bons edifícios podem sem dúvida subsistir como monumentos da sua época, mas aquilo que é mediano tem de dar lugar ao novo. A solução natural que o correr do tempo acaba por impor é também a única possível. Por sua vez, toda a tentativa em sentido contrário não passa de uma mentira."

Fritz Karpfen, Kitsch, trad. João Tiago Proença, Lisboa: Antígona, 2017, p. 74. 

Wednesday, December 20, 2017

NIMBUS


"Eu vi o Amor - mas nos seus braços baços
Nada sorria já: só fixo e lento
Morava agora ali um pensamento
De dos sem trégua e de íntimos cansaços. 

Pairava, como espectro, nos espaços, 
Todo envolto num nimbo pardacento...
Na atitude convulsa do tormento, 
Torcia e retorcia os magros braços...

E arrancava das asas destroçadas
A uma e uma as penas maculadas, 
Soltando a espaços um soluço fundo, 

Soluço de ódio e raiva impenitentes...
E do fantasma as lágrimas ardentes
Caíam lentamente sobre o mundo!"


Antero de Quental, Poesia Completa, org. Fernando Pinto do Amaral, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2001, pp. 292-293. 

Tuesday, December 19, 2017

SERVIR



"«A linguagem serve para produzir uma mensagem, que só ganha sentido na medida em que há um destinatário. Eu falo-vos neste momento, vós sois a razão de ser do meu discurso. Só os loucos falam no deserto. O louco ao menos fala para si mesmo. Mas um texto, para quem fala ele? Para toda a gente! Logo, para ninguém. Quando uma vez por todas fica escrito, cada discurso passa indiferentemente junto dos que o conhecem como dos que nada têm a ver com ele, sem saber quais são aqueles a quem deve ou não dirigir-se. Um texto que não tem destinatário preciso é uma garantia de imprecisão, alegações vagas e impessoais. Como poderia uma mensagem convir a toda a gente? Mesmo uma carta é inferior a qualquer conversa: é escrita num certo contexto, é recebida noutro. Aliás, mais tarde, a situação do autor e a do destinatário mudaram. Ela é já obsoleta, dirigia-se a alguém que já não existe, e o seu autor não existe tampouco, desaparecido no poço do tempo, mal se fechou o envelope.»"


Laurent Binet, A Sétima Função da Linguagem, trad. Antonio Sabler, Lisboa: Quetzal, 2017, p. 186. 

Monday, December 18, 2017

ARACHNE



"What is that bungle hanging from the ceiling
Unresting even now with constant slight
Drift in the breeze that breathes throught rooms at night?
Can it be something, then, that once had feeling, 
A girl, perhaps, whose skill and pride and hope
Strangled against each other in the rope?"


Thom Gunn, Boss Cupid, New York: Farrar, Straus and Giroux, 2000, p. 28. 

Sunday, December 17, 2017

SUFRÁGIOS


"Consumida a ceia, erguemo-nos de mãos postas, rezámos a todos os santos conhecidos e a outros muitos que inventou o dono da casa."

Camilo Castelo Branco, Doze Casamentos Felizes, 2.ª ed., Mem Martins: Publicações Europa-América, 1989, p. 92. 

Saturday, December 16, 2017

CONSTELAÇÕES




"Olhas desabitado, a presença,
olhava-me com os olhos de ninguém:
feixe de reflexos sobre precipícios. 
Olhei lá para dentro: o quarto era o meu quarto, 
e eu não estava. Ao ser, nada lhe falta
- sempre pleno de si, jamais o mesmo - 
ainda que nós já não estejamos... Fora, 
embora indecisas, claridades:
a alba, entre confusas açoteias, 
E já as constelações se apagavam."


Octavio Paz, Árvore Adentro, trad. Luís Alves da Costa, Lisboa: Vega, 1994, p. 65. 

Friday, December 15, 2017

CARVÃO



"Que bela manhã 
O carvão crepita
De bom humor"


Issa Kobayashi, Primeira Neve [haikus], versões de Jorge Sousa Braga. Lisboa: Assírio & Alvim, 2002, p. 51.

Thursday, December 14, 2017

ABRIGO


"RODRIGO 

Ó verdadeiro abrigo
Dos pobres filhos de Adão, 
Que de Vossa condição
Vos pondes a este perigo
Por nos dar consolação, 
E sois este uno e trino
Sois o Mexias divino
Que é prometido na Lei?
Sois esse! ou estou sem tino. 
Abofé, nunca cuidei
De vos ver tão pequenino, 
E mais no chão!"

Anónimo, Prática de Três Pastores, Porto: Editorial Domingos Barreira, s.d., p. 65. 

Tuesday, December 12, 2017

AGELESS


"Não acredita muita gente nestas primaveras eternas do coração. O olho observador do anatómico é que vê as cousas como a natureza as fez, e já não se espanta dos fenómenos do amor que movem a riso as pessoas inscientes. Não há rugas no coração, seja qual for a idade. O que lhe entorpece a atividade é a violência da razão nas damas que envelheceram, ou desenganadas, ou distraídas noutros afetos. Se, porém, a compleição, nervosa ou sanguínea - não sei bem qual dos temperamentos é o mais perigoso - resiste à irrisão e às propensões próprias da idade, a mulher aos setenta anos é um coração de vinte."

Camilo Castelo Branco, Doze Casamentos Felizes, 2.ª ed., Mem Martins: Publicações Europa-América, 1989, p. 85. 

Monday, December 11, 2017

MISÉRIA



"Wagner - Perdoai-me! É um grande prazer transportar-se em espírito aos tempos passados, ver como um sábio pensou antes de nós e como, partindo de longe, tão vitoriosamente o ultrapassámos.

Fausto - Oh! Sem dúvida, até às estrelas. Meu amigo, os séculos passados são para nós o livro dos sete selos; aquilo a que se chama o espírito dos tempos não é mais, no fundo, do que o espírito dos próprios autores, no qual os tempos se refletem. E é na verdade, frequentemente, apenas uma miséria! O primeiro relance de olhos basta para nos pôr em fuga. É como um saco de imundícies, um velho armazém, ou talvez antes, uma dessas paradas de praça pública, cheias de belas máximas de moral como por vez se põem na boca dos fantoches!"


Johann Wolfgang Goethe, Fausto, trad. rev. R. Correia, Lisboa: Edição Amigos do Livro, s.d. pp. 48-49. 

Sunday, December 10, 2017

TEMPESTADE



"O Espírito - No oceano da vida e na tempestade da ação, subo e desço, vou e venho! Nascimento e túmulo! Mar eterno, urdidura mutável, vida enérgica da qual teço, no tear zumbidor do tempo, os tecidos imperecíveis, vestimenta animadas por Deus!"


Johann Wolfgang Goethe, Fausto, trad. rev. R. Correia, Lisboa: Edição Amigos do Livro, s.d. p. 47. 

Saturday, December 9, 2017

OFÍCIOS



"Deslindem agora os apreciadores de alegorias as semelhanças do poeta das trovas com o poeta das giestas. O frenesi famélico com que este desata e repele os penachos e as gabelas cingidas à cintura faz-me lembrar o que eu tenho visto, e espero continuar a ver, nos meus amigos poetas, chegada a hora da prosa, a hora formidável em que as leis do estômago insurgem contra as pulvéreas veleidades do espírito. O poeta, se não faz vassouras dos festões de jasmins, rosas e madressilvas com que enfeitava madonas e medusas, alguém se encarrega de fazer prestadias todas essas flores em papel, cujo aroma muitos leitores aspiram pela primeira vez, quando não é a manteiga inclusa que lhes encanta mais o nariz."

Camilo Castelo Branco, Doze Casamentos Felizes, 2.ª ed., Mem Martins: Publicações Europa-América, 1989, p. 47. 

Friday, December 8, 2017

CONVERSAÇÃO


"O vivo e a morta falavam, e o que eles diziam não o podem entender os vivos nem talvez mesmo os outros mortos, aqueles que ao lado dormiam pesadamente, braços pendidos num gesto de fadiga, pelos séculos dos séculos."

Florbela Espanca, "A Morta", in  Contos e Diário, 2ª ed., Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2004, p. 188. 

Wednesday, December 6, 2017

DÁDIVA


"No mês do Natal, a noite entrava pelas tardes dentro. Ainda era dia e já as estrelas davam o sonho ao mundo."

Branquinho da Fonseca, Bandeira Preta, 4.ª ed., Lisboa: Portugália Editora, s.d., p. 145. 

Tuesday, December 5, 2017

PLACES OF LOVE



"He died, and I admired 
the crisp vehemence
of a lifetime reduced to
half a foot of shelf space. 
But others came to me saying,
we too loved him, 
let us take you to
the place of our love."

Thom Gunn, Boss Cupid, New York: Farrar, Straus and Giroux, 2000, p. 39. 

Monday, December 4, 2017

IMODÉSTIA


"Amor com duradoura poesia, se resta algum, está nos brutos que imodestamente dizemos irracionais. O mundo marcha, diz o estilista francês, que escreve os seus apocalipses não sei em que Patmos dalguma betesga de Paris. Pois se o mundo marcha, de esperar é que os rouxinóis dos nossos sinceirais e as bestas-feras dos deserto líbicos, venham na correnteza dos séculos a entenderem as contradições económicas de Bastiat; e, depois, de poesias sobre a Terra ficará apenas alguma que por aí anda ritmada, a qual não será melhor percebida que o hieroglíficos do Nilo. Pobre poesia!"

Camilo Castelo Branco, Doze Casamentos Felizes, 2.ª ed., Mem Martins: Publicações Europa-América, 1989, pp. 18-19. 

Sunday, December 3, 2017

DEZEMBRO


"Ao nascer do Sol as folhas das árvores eram diferentes: dum metal brilhante e enfeitada com diamantes de orvalho."

Branquinho da Fonseca, Bandeira Preta, 4.ª ed., Lisboa: Portugália Editora, s.d., p. 97. 

ÁREAS CIRCUNDANTES


"Sempre supusera que viajara muito pouco, limitado como estou pelas minhas responsabilidades na casa, mas, como é evidente, ao longo do tempo uma pessoa faz várias deslocações por esta ou aquela razão profissional, e por isso descobri-me muito mais familiarizado com aquelas áreas circundantes que imaginara. Pois, como disse, enquanto conduzia, debaixo do sol, na direção da fronteira do Berkshire, continuei a surpreender-me com a familiaridade que sentia relativamente à região que me cercava."

Kazuo Ishiguro, Os Despojos do Dia, trad. Fernanda Pinto Rodrigues, 5.ª ed., Lisboa: Gradiva, 2017, p. 28.