Tuesday, September 9, 2008

RESPOSTA EM VERSO À INGRATA QUESTÃO COLOCADA SOBRE O SOFRIMENTO DA AUSÊNCIA


"Quero dizer-te uma coisa simples: a tua
ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não
magoa, que se limita à alma; mas que não deixa,
por isso, de deixar alguns sinais - um peso
nos olhos, no lugar da tua imagem, e
um vazio nas mãos, como se as tuas mãos lhes
tivessem roubado o tacto. São estas as formas
do amor, podia dizer-te; e acrescentar que
as coisas simples também podem ser
complicadas, quando nos damos conta da
diferença entre o sonho e a realidade. Porém,
é o sonho que me traz a tua memória; e a
realidade aproxima-me de ti, agora que
os dias correm mais depressa, e as palavras
ficam presas numa refracção de instantes,
quando a tua voz me chama de dentro de
mim - e me faz responder-te uma coisa simples,
como dizer que a tua ausência me dói."


Nuno Júdice, Pedro, Lembrando Inês. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2001, p. 18.

3 comments:

Inês said...

Esmagador. Um abracinho da Miss Pippete

Inês said...

Correcção: um abracinho da Miss Pipette que nem o seu nome sabe escrever.

Anonymous said...

Querida Miss Pipette, obrigado pelas palavras. Fica a jeito de agradecimento uns versos do Nobre, a propósito da "miss" (mutatis mutandis...):

"Essa inglesinha na sua alma abriga
A unção e a graça das crianças puras;
Mas, contudo, ela é uma rapariga
Diferente das outras criaturas..."

António Nobre, Primeiros Versos.

O poema continua, mas aí já entra o desafio de o conhecer por inteiro. Um forte abraço!