Thursday, May 3, 2018

RUMO


"Gostava da vista sobre o rio. Gostava dos ruídos do jardim botânico, da luminosidade. Sobretudo gostava da luminosidade de Lisboa. Mas era uma luminosidade breve, os primos casaram, e os amigos e as namoradas passaram. Sentia-me cada vez mais aprisionado no tumulto da cidade. Tenho medo da clausura. Onde não há espaço não há rumo. Às vezes sonhava acordado com um milagre. Três vezes louvada sejais. Que milagre, santo Deus do céu, eu não fazia a mínima ideia. Deveria estar lá longe, algures, atrás dos montes."

Gerrit Komrij, Atrás dos Montes, trad. Patrícia Couto, Porto: Asa, 1997, p. 48. 

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