Tuesday, October 21, 2008

O SOL NO OUTONO


" Eu sou o pai do dia...
Sou velho tronco, a arder, no lar azul do espaço.
Os planetas abrange a curva do meu braço.
Eu sou um grande lar onde os mundos se aquecem...
Sempre milhar's de mãos que os gelos arrefecem
Se estendem sobre mim... E descobri entre elas,
Homem, as tuas mãos, orvalhadas d'estrelas,
De lágrimas, talvez... teu lúcido fulgor
Sabe compreender tuas lágrimas de dor
Que nas asas ideais da Vaporização
Alcançaram meu grande e ardente coração!
Vejo-as dentro de mim. E a minha luz bendita,
Que numa bênção cai da abóbada infinita,
Quando seus lábios vão beijar o pranto humano
Que lhes faz lembrar as ondas do oceano,
Sente-se triste... e vem trazer-me essa tristeza
Na nuvem que troveja e que suspira e reza!...
Tenho, dentro de mim, o humano sofrimento..."


Teixeira de Pascoaes, Para a Luz, Lisboa: Assírio & Alvim, 1998: pp.78-79.

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