Sunday, February 27, 2011

A MADRUGADA DOS DEUSES


"Na verdade, Juliano nem acreditava: o Bispo de Ílion era um admirador de Aquiles e conservava o seu túmulo com um pio cuidado! Tinham descrito um Cristão sectário e iconoclasta e era um dos homens mais dedicados para o entender! Um último traço, contado por Juliano, acabou por conquistá-lo. «Aqueles que agora lhe são hostis - acrescenta - disseram-me que invocava em segredo e adorava o Sol.»
Este era um argumento ao qual Juliano não podia resistir. Completamente convertido a seu favor, sentiu uma estima crescente por Pégaso e começou a interrogá-lo sobre a sua vida. Este contou-lhe que apenas se aliara ao cristianismo para poder salvar as moradias dos deuses, mas que nunca se entregara à mínima depredação nos templos, à excepção de um ínfimo número de pedras que tirara de uma estalagem para melhor conservar o resto.
Definitivamente, aquele prelado culto e arqueólogo era um ser requintado. Também um ser corajoso. Outros faziam sacrifícios secretamente aos deuses; ele sacrificara-se aos deuses. Juliano deu graças a Hélios por tê-lo conhecido. O que Pégaso acabava de revelar em alguns minutos era infinitamente mais precioso do que tudo o que lhe podia ensinar um exame prolongado das muralhas de Príamo. Graças a ele, descobrira que uma multidão de almas ferventes, mais numerosas do que imaginava, depositavam as suas esperanças numa restauração do paganismo."

Benoist-Méchin, Imperador Juliano - o Filho do Sol, trad. Isabel Debot, Lisboa: Ésquilo, 2006, p. 91.

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