Wednesday, May 4, 2011

CLARIMUNDA


"Uma ligeira respiração misturou-se à minha respiração, e a boca de Clarimunda respondeu à paixão da minha; os seus olhos abriram-se e retomaram um pouco de brilho, deu um suspiro e descruzou os seus braços, passou-os por detrás do meu pescoço.
- Ah! És tu, Romualdo - disse numa voz langorosa e suave como as últimas vibrações de uma harpa - que fazes agora? Esperei-te tanto tempo que morri; mas agora nós somos noivos, poderei ver-te e ir a tua casa. Adeus Romualdo, adeus! Amo-te; é tudo o que queria dizer-te, e restituo-te a vida que tu despertaste em mim durante o minuto que durou o teu beijo; até breve.
A sua cabeça descaiu para trás, mas ela segurava-me sempre com os seus braços, como para me agarrar. Um turbilhão de ventos furiosos abriu a janela e entrou no quarto; a última pétala da rosa branca vacilou algum tempo, como uma folha na ponta do caule, depois desprendeu-se, voou pelo caixilho aberto, levando com ela a alma de Clarimunda. A lamparina apagou-se, e eu caí desmaiado sobre o peito da bela morta."
Theophile Gautier, A Morta Apaixonada, trad. Pedro Reis, Lisboa: Amigos do Livro Editores, s.d., p. 28.

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