Thursday, February 16, 2012

ONDE HABITAM OS FANTASMAS


"Num tempo de casas fechadas, quando
o calor desce do céu baixo e empurra
as portadas das janelas com o ruído
seco de invisíveis detonações, a
tua voz monótona confunde-se com uma
súbita alteração no mecanismo do relógio:
rodas que saltaram dos eixos, ponteiros
arranhando o mostrador, e o pêndulo
às voltas dentro da caixa. No entanto,
quem dorme a dois passos de tudo isto
nem imagina que o pesadelo passou para
a realidade. O sonho tem a consistência
da vida; e a voz que se ouve obedece
a uma lógica que impede o despertar - mesmo
quando batem à porta, com insistência,
como se a casa não estivesse desabitada."
Nuno Júdice, Meditação sobre Ruínas, 3ª ed., Lisboa: Quetzal Editores, 1999, p. 74.

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