Saturday, July 14, 2012

NÃO ERA UMA PORTA DE PALAVRAS




"Abri a pequena porta de uma varanda
e vi a luz selvagem
que iluminava o mundo sem palavras
antes do palato, antes da boca.
Eu não queria ser mais do que o murmúrio do sol
e o sorriso da água.
Estava dentro de uma nuvem. Era uma água rápida
em forma de mulher. Uma vespa de argila
pousara sobre uma camisa branca.
Entrevia entre as árvores o celeiro azul do mar.
A porta que se abria não era uma porta de palavras
mas as palavras eram agora o ouvido do silêncio."

António Ramos Rosa, A Imagem e o Desejo, Lisboa: Universitária Editora, 1998, p. 8.

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