Tuesday, September 26, 2017

PARA LÁ


"Certas manhãs ficava acordado olhando o rectângulo insidioso, recusando-me a admitir que o dia nascera, temendo a evidência da solidão. O mundo morava longe, muito para lá da porta. Vinha-me dele um frémito longínquo. Agora, porém, o vidro fosco já não me aturde com essa espécie de despertar pavoroso e lívido. Agora sei que o amor nos faz aproximar as coisas, habitá-las, que pelo amor as reconhecemos e que, depois de lhe recebermos a revelação, nada mais é preciso para nos sentirmos vivos."

Fernando Namora, Domingo à Tarde, 11.ª ed., Amadora: Livraria Bertrand, 1975, p. 25. 

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