Tuesday, October 10, 2017

AS CIDADES


"Nas cidades
não faz já tempo bom, nem mau sequer - 
o ar das cidades é sempre benzina ou fumos de combustível, 
óleo lubrificante, gases de escapes.

Tal como os fumos sobre um pântano profundo
adensam miasmas, os fumos de automóveis
adensam espessos nas cidades. 


Na Roma antiga, pelas ruas de multidão
não deixavam passar carros de rodas nem quadrigas insolentes.
Só havia passos, passos
de gente
e o suave trotar dos moços das liteiras. 

Em Minos, em Micenas
em todas as cidades de portas de leões
os mortos sulcavam os ares, deixavam-se ficar
deixavam-se ficar à sombra da terra
e inclinavam-se para os lares de outrora. 


Em Londres, Nova Iorque, Paris, 
nas cidades desfeitas 
a custo caminham os mortos pelo ar de lama
pelo paul dos fumos
a custo, calcando cansados os nossos corações."


D. H. Lawrence, Gencianas Bávaras e outros poemas, versão de João Almeida Flor, Lisboa: Na Regra do Jogo, 1983, pp. 87; 89. 

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