Monday, February 3, 2020

A UMA JANELA




"Dêem-me a fome,
Ó deuses que dão parados
Ao mundo as suas ordens. 
Dêem-me a fome, a dor e a penúria, 
Barrem-me entre a vergonha e o falhanço
Às vossas portas de ouro e fama, 
Dêem-me a vossa fome mais vil e penosa!

Mas deixem-me um pouco de amor, 
Uma voz que me fale ao findar o dia, 
Uma mão que me toque na escuridão do quarto
Quebrando a longa solidão. 
No crepúsculo das figuras diurnas
Que toldam o pôr-do-sol, 
Uma pequena estrela vagabunda e ocidental
Expelida das terras inconstantes da sombra. 
Deixem-me ir até à janela, 
Dela observar as figuras diurnas do crepúsculo
E esperar e reconhecer a chegada 
De um pouco de amor."


Carl Sandburg, Antologia Poética, trad. Vasco Gato, Porto: Flâneur, 2017, p. 85. 

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