Sunday, November 28, 2010

ONDE ADORMECEM AS AVES, MUROS



"Dormis onde adormecem as aves:
abrigos de sóis empalidecidos
sob céus amplos como velhas naves
vogando num reflexo de lagos esquecidos;

num sono fugitivo como a corça
que o próprio vento amedronta
quando, soprando sem força,
o arbusto dobra na ponta.

Num espasmo de breve sobressalto
os corpos estremecem: velas
empurradas para o mar alto

num impulso branco de telas
que o pintor olhou, sem ver nelas
mais do que um brusco bater de janelas.


Nuno Júdice, Meditação sobre Ruínas, 3ª ed., Lisboa: Quetzal Editores, 1999, p. 80.

No comments: