Sunday, March 13, 2011

DOS CISMAS 1


"Basílio, que era o filho mais velho, sentou praça em lanceiros, no ano de 1834.
Regressando com baixa a casa de seus pais, pelos anos de 1840, trouxe um alfarrábio, manuscrito, no qual se liam as máximas mais absurdas, de uma seita alguma coisa semelhante à dos mormons, porém ainda mais estúpida e imoral.
Não sabendo de que artes se serviu Basílio, para fazer adoptar esta ignóbil seita por todos os membros da sua família, mas o certo é que não só o conseguiu, mas até angariou ainda umas oitenta a cem pessoas estranhas (mesmo famílias inteiras) da freguesia e circunvizinhas; chegando a tal ponto o fanatismo, que alguns dos iludidos, deram cabo de tudo quanto tinham, para o gastarem no vasto lupanar do José Custódio, onde se praticavam as acções mais torpes!
A esta casa, que era grande, deram o nome de arca da aliança (!)
Maria das Neves, que foi elevada a grã-sacerdotisa da seita, com o nome de terceira Eva, por Jesus coroada. Era esta mulher infamíssima que explicava as doutrinas da seita, e todas criam nas suas predições.
Erigiram-lhe um trono, onde se sentavam vestida de branco, fazendo-lhe a corte, toda aquela corja, completamente nus e formados em duas alas, a da direita, de homens - e a da esquerda, de mulheres.
Perguntava-lhes então ela do seu trono: - «Quem viva?» - e todos deviam responder - «viva a terceira Eva, por Jesus coroada, e viva a arca da aliança!»
Descia em seguida do trono, e acompanhada de um irmão, também completamente nu, dava a comunhão (!) a todos os que na véspera a ela se tivessem confessado!... Esta comunhão consistia em um gomo de laranja de que o irmão trazia um prato cheio. Isto, (dizia ela) dava a imortalidade!..."
Patrício Lusitano [Pinho Leal] e Pantaleão Froilaz [Pedro Ferreira, Abade de Miragaia], Maria Coroada ou o Cisma da Granja do Tedo - verdadeira história da mulher-homem António Custódio das Neves ou Antónia Custódia das Neves, Porto: Tipografia de Manuel José Pereira, 1879 [ed. facsimilada da Câmara Municipal de Tabuaço, 1999], pp. 33-34 (texto actualizado).

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