Monday, August 22, 2011

O TEMOR



"Os homens temem a morte como as crianças temem caminhar na escuridão, e como este natural receio das crianças é acrescido com fábulas, assim também o outro. Certamente, a contemplação da morte, como soldo do pecado e passagem para outro mundo, é atitude piedosa e religiosa, mas temer a morte como um tributo devido à natureza, isso é fraqueza. (...)
É tão natural morrer como nascer, e para o infante talvez que uma coisa seja tão penosa como a outra. Aquele que morre na séria perseguição de um fim é como aquele que fica ferido até ao sangue, o qual, por escasso tempo, sente a ferida, e, é por isso que, um espírito fixado e tendido sobre algo que é bom, não se adverte das dores da morte. Mas, sobretudo, acreditai, o mais doce cântico é Nunc dimittis [Agora descansa], quando o homem realizou as suas esperanças e atingiu valiosos fins. A morte tem também a vantagem de que abre a porta à boa fama e extingue a inveja.
Extinctus amabitur idem [Ainda morto será amado]"


Francis Bacon, Ensaios [Ensaios da última edição, 1625], trad. Álvaro Ribeiro, 3ª ed., Lisboa: Guimarães Editores, 1992, pp. 35; 37.

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