Saturday, December 17, 2011

ORATE, FRATRES


"A vida aparece à luz deste raciocínio como um grande pesadelo, do qual no entanto é possível livrar-se pela morte, que seria, assim, uma espécie de despertar: Mas despertar para o quê? Essa irresolução de lançamento ao nada absoluto e eterno deteve-me em todos os projectos de suicídio. Apesar de tudo, o homem tem tanto apego ao que existe, que prefere naturalmente suportar a sua imperfeição e a dor que causa a sua fealdade, em vez de aniquilar a fantasmagoria com um acto da sua própria vontade. E pode acontecer, também, que quando chegarmos ao limite do desespero que precede o suicídio, por se ter esgotado o inventário de tudo o que é mau e se ter chegado ao ponto em que o mal é insuperável, qualquer elemento bom, por pequeno que seja, adquire um valor desproporcionado, acaba por tornar-se decisivo e aferramo-nos a ele como nos agarraríamos desesperadamente a qualquer erva ante o perigo de cair num abismo."
Ernesto Sabato, O Túnel, trad. Iva Delgado, Lisboa: Livros do Brasil, 1991, pp. 168-169.

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