Monday, August 27, 2012

A NECESSIDADE


"Pascoala - Tens muita, muita razão;
Que esses fidalgos baratos
Costumam ser mais ingratos
Do que o próprio gorrião.
No Inverno, quando o frio
Mantém os campos gelados,
Eles descem dos telhados
E dizem-nos: « Tio...Tio...»
Até chegam a comer
As migalhinhas da mesa.
Mas logo que o frio cessa
E o campo vai florescer,
Já não dizem «tio, tio»,
Do benefício olvidados;
Dizem «Fastio... Fastio...»,
Saltando pelos telhados.
Tais e quais os homens são;
Quando a mulher lhes convém,
É: «Minha vida, meu bem,
Minh'alma, meu coração!»
Mas, depois daqueles dias
Em que nos falam a sós,
Quando se fartam de nós
Nem sequer nos chamam tias.

Lourença - Não te fies em nenhum.

Pascoala - Eu digo o mesmo, Lourença."
  Lope de Vega, Fuenteovejuna, trad. António Lopes Ribeiro, Lisboa: Editorial Verbo, 1972, Act. I, C. III, p. 21.

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