Sunday, July 6, 2014

ORCO


"Sei às vezes que o corpo é uma severa
massa oca, com dois orifícios 
nos extremos:
a boca, e aos pés a dança com a coroa de labaredas
- a cratera de uma estrela. 
E que me atravessa um protoplasma
primitivo, 
uma electricidade do universo, 
uma força. 
E por esse canal calcinado sai
um ruído rítmico, uma fremente
desarrumação do ar, o vento sibilante, 
vento:
o som onde começa tudo - o som. 

Completamente vivo.


Herberto Helder, Ou o poema contínuo, Lisboa: Assírio & Alvim, 2004, p. 382. 

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