Saturday, September 6, 2014

CABANA



"Quando a tua casa se vai tornando a cesta de vime
Pedes um rio, uma irmã junto da água
Uma margem que venha pousar-te fora da corrente
Quanto a tua casa está de frente para a derrocada 
Como um ninho a fazer-se por um pássaro que não chega
Quando a luz agasalhada da mulher que toma banho
Toma o teu corpo nos braços
Quanto a tua casa é voltares a casa
Ao regaço aquático da tua mãe

Nadas nela quando dormes em palácios
Quando adormeces junto às sarças no meio dos rebanhos
Mergulhas nela como num baptismo

Quanto a tua casa se torna uma cabana
E dentro dela só há a claridade
Do teu corpo continuamente a ruir"


Daniel Faria, "Dos Líquidos", in Poesia, Lisboa: Assírio & Alvim, 2012, p. 237. 

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