Wednesday, November 11, 2015

DESÇO-ME



"Numa ânsia de ter alguma cousa, 
Divago por mim mesmo a procurar, 
Desço-me todo, em vão, sem nada achar, 
E minh' alma perdida não repousa!

Nada tendo, decido-me a criar:
Brando a espada: sou luz harmoniosa
E chama genial que tudo ousa
Unicamente à força de sonhar...

Mas a vitória fulva esvai-se logo...
E cinzas, cinzas só, em vez de fogo...
- Onde existo que não existo em mim?

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Um cemitério falso sem ossadas, 
Noites de amor sem bocas esmagadas - 
Tudo outro espasmo que princípio ou fim..."


Mário de Sá-Carneiro, Poesia, Lisboa: Círculo de Leitores, 1990, p. 110. 

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