Thursday, June 28, 2018

ACOIMADO



"Que a negra rocha irada o vento seco a role
Nunca há-de parar nem sob pias mãos
Tacteando a semelhança com os males humanos
Como para benzer-lhes algum funesto molde. 

Aqui se quase sempre arrulha a brava rola
Este luto irreal aprisiona em tantas 
Pregas núbeis o astro prenhe dos amanhãs
De que um só cintilar a multidão aureole.

Quem busca, prosseguindo o solitário impulso
Por vezes aparente do nosso vagabundo - 
Verlaine? Ele se esconde entre as ervas, Verlaine

A não surpreender senão num ingénuo acordo
Sem aí beber lábio nem estancar o alento
Um riacho pouco fundo acoimado a morte."


Stéphane Mallarmé, Poesias, trad. José Augusto Seabra, Lisboa: Assírio & Alvim, 2005, p. 145. 

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