Sunday, May 9, 2010

DO PRIMITIVISMO



"De dentes cerrados, já não conseguindo senão balbuciar, Jacques agarrara-se a ela; e Séverine agarrava-o também. Possuíram-se, reencontrando o amor no fundo da morte, na mesma volúpia dolorosa dos animais que se desventram durante o cio. Apenas se ouvia o seu respirar rouco. No tecto, o reflexo sangrento desaparecera; e, com o fogão apagado, o quarto começava a gelar, penetrado pelo frio intenso do exterior. Nem uma voz se elevava de Paris, enchumaçado de neve. Por momentos ouviu-se um ressonar vindo da casa da vendedora de jornais, ao lado. Depois, tudo mergulhou no abismo negro da casa adormecida."


Émile Zola, A Besta Humana, trad. Sampaio Marinho, Mem Martins: Publicações Europa-América, s.d., p. 205.

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