Sunday, October 31, 2010

BALANÇO DO MÊS 10


"(...)
Quando o luar do Céu azula a frágua,
E o Céu sem fim, a abóbada estrelada,
Como que tem os olhos rasos de água;

Nessa hora indecisa, angustiada,
Em que o Universo está às escuras,
Que não sabe se é antes a alvorada;

Eu pude ver, erguendo-se às alturas,
Aquela benta lágrima de pranto
Que despedem, morrendo, as criaturas,

E ao vir a noite, com nervoso e espanto,
Vi uma estrela a mais no azul do Céu:
E que um poeta, que era justo e santo,

Às horas do crepúsculo... morreu!
O simples coração de Julieta
Dentro da alma virgem de Romeu!

Uma criação de Deus, mas incompleta:
Águia que tinha um coração de pomba,
Cedro que dava folhas de violeta!

Ah, quando vejo uma flor que tomba
Meu coração não pode e, em sua dor,
Escarnece do Bem, que tudo zomba!

(...)"


António Nobre, , Lisboa: Leya BIS, 2009, pp. 177-178.

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