Friday, November 25, 2011

TEIA E FANTASMA


"Vindo o Natal, lembrou-se a gente da Levada de que somente um ano decorrera sobre o aparecimento da menina, conquanto mais lhe parecesse que ela estava em tudo o que a memória recordasse. Era uma memória adormentada que se movia entre um pó de ouro e escuridão. Iluminava-se uma e outra cena, numa escolha do acaso, e não havia maneira de as ligar logicamente.
Estavam os Levadeiros fatigados, como se se tivessem concedido demasiado tempo para o sono. E poder-se-ia mesmo dizer a seu respeito que viviam aquela angústia dos fantasmas quando fazem as suas expedições terrenas junto dos que pensavam ser-lhes familiar e se tornou para sempre estranho e inacessível."
Hélia Correia, Insânia, Lisboa: Relógio D'Água, 1996, p. 125.

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