Sunday, July 21, 2013

OS OUVIDOS DA FORTUNA


"Pois eis que um povo domina, outro sucumbe conforme os caprichos da Fortuna, serpente oculta na relva da campina. Contra ela de nada valem o vosso poder e o vosso querer. Ela provê, ajuíza e rege em seu domínio, como sobre ela mesma impera a vontade divina. Sem jamais cessar, vai provendo as suas mudanças, pois ser veloz é imperativo da Fortuna. É por isso que, no mundo, tanta sorte tão rapidamente muda. Tal é a Fortuna, muita vez insultada com censuras injustas, mesmo por aqueles que razões teriam para louvá-la. Feliz, porém, nada disso ela escuta. Primitiva como as criaturas originais, em ser como é encontra a sua felicidade. Mas agora desçamos a ver o espetáculo ainda mais triste. Já desmaiam as estrelas que brilhavam quando partimos. Mais tempo não podemos estar aqui."
 
Dante, A Divina Comédia, "Inferno", canto VII, trad. Hernâni Donato, São Paulo: Abril Cultural, 1981, pp. 46-47.

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