Thursday, July 9, 2015

O ABERTO



"Recomeçou: retrocedendo, internou-se outra vez 
no poema, tropeçando no rumor que escurecia o sangue 
em ondas nas paredes lentas. Ouvia cada vez mais longe
a boca do mar que repetia: - uma onda uma praia outra onda, 
nas margens do mundo. Lá: o aberto de um leque bateria o ar
como as pétalas de uma borboleta perene; e aqui ele confiava-se
aos passos de quem por ali seguira, os seus ou os de outrem - 
não sabia; mas alguém passara já por ali, sempre à beira de cair."


Manuel Gusmão, migrações do fogo, Lisboa: Caminho, 2004, p. 24. 

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