Friday, July 15, 2016

ANIVERSÁRIO




"Lembram botões eléctricos teus olhos.
Chego os dedos a eles e carrego. 
Acendem-se de imagens. Fico cego...
Sinto que as coisas morrem nos teus olhos. 

Há entre mim e a Noite um reposteiro. 
Pressinto-o no meu vê-lo. Ânsia perdida...
Eu próprio às vezes julgo ser ponteiro
No relógio que marca a minha Vida. 

E vejo a minha infância ser de seda. 
Ando com ela ao colo pla alameda. 
É um eco de mim em idas naves...

Cai-me na cor do Outrora cinza preta. 
E sinto e meu Passado na gaveta
Da cómoda a que alguém perdeu as chaves."


Alfredo Guisado, Tempo de Orfeu, Coimbra: Angelus Novus, 2003. p. 151. 

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