Monday, November 7, 2016

VINHA



"Ninguém mo ensinou mas descobri por mim
Uniste aos nossos pulsos o milagre das mãos

A vara que me auxilia é de longe que a arranca
Aquele que faz a monda. É já de longe que se abre
No interior da morte

Não adianta escolher um terreno onde estacá-la
De pedra em pedra o rio não salta para fora
Da corrente. De silêncio em silêncio não se guarda 
No peito como pulsação o segredo
Não nascem como o lírio as pequenas constelações. Nem achá-las iguala
As quatro folhas do trevo

Ninguém planta a vinha como quem descobre uma nova fonte
Mais do que o vinho ninguém aguarda a sede nova
Ninguém se enxerta por si mesmo ano após ano

Ninguém mo ensinou fui eu que descobri"


Daniel Faria, "Dos Líquidos", in Poesia, ed. Vera Vouga, Lisboa: Assírio & Alvim, 2012, p.  328. 

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