Wednesday, November 30, 2016

PUNHAIS



"Solta-se o vento e, cerrado o arvoredo, 
das nuvens a nação se dispersa. 

É frágil o real, e tão inconstante, 
infatigável, também, toda a lei sua de câmbio:

gira a roda das aparências 
no eixo da imobilidade do tempo.

A luz desenha tudo e tudo incendeia, 
crava no mar punhais que são teias, 

Faz do mundo pira de reflexos:
e nós dele só centelha. 

Não é luz de Plotino, é luz terrestre, 
luz daqui, mas luz de inteligência. 

E reconcilia-se com o exílio:
pátria é o seu vazio, errante asilo."


Octavio Paz, Árvore Adentro, trad. Luís Alves da Costa, Lisboa: Vega, 1994, p. 19. 

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