Wednesday, September 12, 2018

GNÓMON



"Sol de Setembro, desenganado. O purpúreo
campo alagado
nas horas do fôlego primeiro. Não
te irás submeter a esta luz, ou fechar os olhos
ao vigilante
abatimento da luz nos teus olhos. 

Firmamento de factos. E tu, 
como tudo o resto
que se move. Semente descrita
nas suas partes e dedal de ar. Verme e nuvem
fissurados: o final
em abertos da frase
no momento em que dou início
ao meu silêncio. 

Talvez, então, um mundo
que segrega as suas colheitas
nos pulmões, uma sobrevivência
através
da respiração apenas. E se nada, 
então deixa ser o nada
a sombra
que dentro da tua caminha, o corpo
que a primeira pedra lançará, para que mesmo
ao ires embora de ti, rumo a ti
o possas sentir cheio de vontade, hora-a-hora
através das enormes
vinhas dos vivos."


Paul Auster, Poemas Escolhidos, trad. Rui Lage, Vila Nova de Famalicão: Quasi Edições, 2002, pp. 86-87. 

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