Saturday, January 25, 2020

FINGEM




"Desce a paz com a música dos sinos, 
Tal pingos d'óleo sobre a água lisa,
E as sete luzes que, em suspeita irisa
O céu, se apagam. Correm desatinos

No sumiço das árvores. A brisa
Endoida os fumos que, das casas, finos, 
Fingem no ar gigantes e meninos, 
Asas e mãos, que a noite inutiliza. 

Depois, cerra-se, vão, o azul de em volta, 
Que tudo esmaia. Só as estrelas tolhem, 
Como furos, no véu que encobre tudo...

Murcham os braços. Cessa o ventre, Mudo, 
Cala-se o esgar de lúbrica revolta
Na árvore em que os pássaros recolhem."


António Pedro, Antologia Poética, Braga-Coimbra: Angelus Novus, 1999, p. 59. 

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