Thursday, June 25, 2020

LUCTAS




"Ali, onde o mar quebra, n'um cachão
Rugidor e monotono, e os ventos
Erguem pelo areal os seus lamentos,
Ali se ha-de enterrar meu coração. 

Queimem-no os sóes da adusta solidão
Na fornalha do estio, em dias lentos!
Depois, no inverno, os sopros violentos
Lhe revolvam em torno o arido chão...

Até que se desfaça e, já tornado
Em impalpável pó, seja levado
Nos turbilhões que o vento levantar...

Com suas luctas, seu cançado anceio, 
Seu louco amor, dissolva-se no seio
D'esse infecundo, d'esse amargo mar!"


Antero de Quental, Os Sonetos Completos, Coimbra: Imprensa da Universidade, 1933, p. 52. 

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