Monday, September 3, 2012

FRITATA


"Frondoso - O céu maldiga o poeta
Que tão tristes versos faz!

Barrildo - De melhor não é capaz.

Mengo - A minha musa é discreta.
Que acontece ao biscoiteiro
Na ocasião em que deite
Massa de filhós no azeite
A ferver no seu caldeiro?...
Uns filhós saem inchados,
Uns tortos, outros direitos,
Uns canhotos e mal feitos,
Outros gordos e queimados.
Assim imagino eu
O poeta a versejar,
Muito ocupado a fritar
A massa que Deus lhe deu.
Vai deitando a versalhada
No caldeiro do papel,
Confiado em que saiba a mel
A cantiga ou a balada.
Quer fazer versos ao jeito
De a todos matar a fome;
E afinal só ele os come
E não lhe fazem proveito."
Lope de Vega, Fuenteovejuna, trad. António Lopes Ribeiro, Lisboa: Editorial Verbo, 1972, Act. I, C. XVI, p. 59.

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