Monday, March 18, 2013

PRIMEIRO DIA


"Porque não criar por criar, pintar por pintar, escrever por escrever? Porque não continuamos crianças, a produzir sem sentido utilitário, apenas pelo sentimento agradável que as formas das coisas suscitam? Porque não manter uma sensibilidade lúdica e infantil, enriquecendo a afectividade, como diz Edgar Morin? Porque não a imaginação pura? Parece que depois da infância e da adolescência há mundos que nos são vedados, metem-nos a disciplina do trabalho e os valores castradores do capitalismo dos mercados na cabeça. Não, nós não éramos assim. Nós tínhamos o sonho, o imaginário, a magia. Temos de recuperá-los. Temos de ir buscá-los à nossa alma. Temos de voltar ao primeiro dia. Sejamos como as crianças, como a criança sábia, caminhemos sem direcção definida, interroguemos o mundo. Estejamos abertos para a eterna novidade. Escrevamos simplesmente porque queremos escrever, sem imposições, sem prazos, sem limites. Sejamos loucos, afastemo-nos da realidade que nos querem impor. Voltemos às pinturas rupestres. Criemos livremente, sem medos, sem patrões, sem papões. Celebremos o primeiro dia."
A. Pedro Ribeiro, Fora da Lei, Braga: e-ditora, 2012, p. 59.

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