"Assim parecia que acabava Lactâncio, quando a senhora Marquesa prosseguiu, dizendo:- Nem quem será o virtuoso e o quieto (se de santidade a menosprezar) que não faça muita reverência e adore as espirituais contemplações e devotas da santa pintura? Tempo mais asinha creio que minguasse que matéria nem louvores desta virtude. Ela ao melancólico provoca alegria; ó contente e ó alterado ao conhecimento da miséria humana; ao desaustinado move-o à compunção; o mundano à penitência; o não contemplativo à contemplação e medo e vergonha. Ela nos mostra a morte e o que somos, mais suavemente que doutra maneira; ela os tormentos e perigos dos Infernos; ela, quanto é possível, nos representa a glória e paz dos bem-aventurados, e aquela incompreensível imagem do Senhor Deus. Representa-nos a modéstia dos seus santos, a constância dos mártires, a pureza das virgens, a formosura dos anjos e o amor e caridade em que ardem os serafins, melhor mostrado que de nenhuma outra maneira, e nos enleva e profunda o espírito e a mente além das estrelas, a imaginar o império que lá vai."Francisco de Holanda, Diálogos de Roma, I, Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1955, pp. 27-28.
No comments:
Post a Comment