Friday, January 14, 2011

DO AUTO-RETRATO



"É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.

É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.

É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha linha a antiga fúria.
Sempre o mesmo engano outro retrato.

É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.

Sempre o meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência."


Carlos Drummond de Andrade, Antologia Poética, 2ª edição, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2002, pp. 55-56.

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