"E, enfim, os indivíduos sensatos estavam de acordo para negar redonda e sinceramente o despautério. De que natureza seria, pois, aquele amor?
Em primeiro lugar, o amor é uma aventura a dois; o facto, porém, de ser isso não implica que seja igual para ambos os componentes. Há o que ama e há o amado. Muitas vezes, este último constitui apenas um estímulo para o amor acumulado que jaz até aí no amante, o qual bem sabe que isso é uma coisa solitária. Depois, vem a conhecer nova e estranha solidão, o que o faz sofrer ainda mais. De modo que só lhe resta um processo: guardar o amor dentro de si tanto quanto puder; criar um mundo interior, intenso e completo. Digamos aqui que este amante de quem falamos não precisa necessariamente de ser jovem nem destinado ao casamento: pode ser homem, mulher, criança - enfim, qualquer entidade terrena."
Carson McCullers, A Balada do Café Triste, trad. Cabral do Nascimento, Lisboa: Círculo de Leitores, 1989, pp. 42-43.
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