"Mais do que devo, gosto
de andar na praia,
de a visitar em dias,
e saber sempre
que não fomos à praia,
nem um, nem dois.
O teu corpo na areia
fulva, tão fina,
onde ele nunca deitou.
Nem eu, tampouco,
me estendo nessa toalha.
Mas não será
por isso que vou hoje
deixar de ver
a largura tostada
dos nossos dorsos,
o vermelhão da luz
sobre a tua pele,
o protector solar
no teu nariz,
mancha sexy, molhada,
quando sorris,
as costas encostadas,
espraiadas praias.
Será melhor usar
o protector
também, se fores tu
a colocar-mo.
Aqui, no guarda-sol,
ninguém nos vê.
Ninguém nos viu na praia,
só eu vi todos
os que por lá passavam,
um pouco como
tu, a fazer passeios
à beira-mar,
a fumar no calor,
nós os dois, juntos,
crendo inventar um novo
lugar comum."
Amândio Reis, Antilha, Lisboa: Língua Morta, 2022, pp. 54-55.
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