"Janelas, canteiros de flores coloridas,
Toca de lá um órgão cá para dentro.
Sombras dançam sobre papéis de parede,
Maravilhosa e louca a sucessão.
Os arbustos sopram um buraco de luz,
Agita-se um enxame de mosquitos.
Longe, ceifam no campo as foices
E uma água antiga canta.
De quem é a respiração que me acaricia?
Andorinhas desenham sinais loucos.
Suave, desliza para aí
O bosque dourado, rumo ao sem fim.
Cintilam chamas nos canteiros.
Louca sucessão confusa, em êxtase,
Ao longo do papel de parede amarelecido.
Alguém espreita pela porta adentro.
Cheiro doce a incenso e pêra
E o crepúsculo desce sobre vidros e arcas.
Lentamente dobra-se a fronte quente
Em direcção às estrelas alvas."
Georg Trakl, Poemas, trad. e pref. António de Castro Caeiro, Lisboa: Abysmo, 2019, p. 33.
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