"Procure ao largo de alma o lenitivo
para este mal da vida, sem promessa.
O corpo vive alheio a se ter vivo
quando fome maior nos arremessa.
Temos todos, enfim, um amor cativo
que tudo pode e inflama e tudo cessa
quando liberto em sim vê seu motivo
a este amor dê tudo e nada peça.
Cante em sua voz o rito e os dissabores
do tempo e acontecer mais abstraindo
aspecto transitório e fáceis cores.
Só amor, enquanto é, nos anistia:
sem ele, seres, coisas, verso vindo
são refúgios do medo sem poesia."
Maria Ângela Alvim, Superfície - Toda Poesia, Lisboa: Assírio & Alvim, 2002, p. 68.
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