"Não assim os países das montanhas: aí tudo é vivo, tudo fala, tudo ri ou ameaça. Aí os cimos das serras se prolongam ora nus e brancos, como uma ossada esquecida em campo de batalha, ora negros como as bordas de um vulcão, ora cobertos de pinhais cerrados, que faz gemer o bafo do vento, e que na sua cor triste semelham a uma viúva assentada sobre pedra de sepulcro: lá de qualquer modo que serranias se coroem, contrastam na sua gravidade selvagem com a macia verdura dos vales, cultivados pela mão do homem: lá a luz do dia, quebrada pelos rochedos, varia de estação em estação, diremos de hora em hora, o aspecto da paisagem; e a existência sente-se passar a cada instante, e não se escoa como um rio adormecido."
Alexandre Herculano, Cenas de um Ano da Minha Vida / Apontamentos de Viagem, Lisboa: Livraria Bertrand, 1973, p. 114.
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